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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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Alívio de tristes e consolação de queixosos- Parte III 381<br />

adquiri<strong>do</strong> na imortal batalha de Maratona contra os persas era um perpétuo<br />

desperta<strong>do</strong>r que nem de dia lhe permitia sossego, nem de noite lhe concedia<br />

lugar ao sono para o descanso. Foi o romano Lúcio Sila tão ambicioso de<br />

<strong>do</strong>minar e de sobre to<strong>do</strong>s ele só luzir que, com ser o grande Pompeu o<br />

principal de seu séquito e que ao seu ban<strong>do</strong> patrocinava, não podia levar em<br />

paciência as honras que o povo romano a Pompeu fazia, sentin<strong>do</strong> e<br />

dissimulan<strong>do</strong> no íntimo de seu coração ver a outro aplaudi<strong>do</strong>, desejan<strong>do</strong><br />

estancar em si só to<strong>da</strong>s as honras, para que a ninguém mais se<br />

comunicassem.<br />

Diferente exemplo nos dá o mar porque, suposto que seja o centro em<br />

que to<strong>do</strong>s os rios e fontes finalmente param, logo torna a repetir-lhes liberal<br />

quantos tributos de suas águas recebe, acrescentan<strong>do</strong> muitas vezes o cabe<strong>da</strong>l<br />

maior a quem por arroio pobre lhe ofereceu menos; que é desempenho de<br />

generosos remunerar com vantagens o que se recebe. Não inquietavam pois<br />

ao nosso desengana<strong>do</strong> Peregrino nem lisonjas <strong>da</strong> ambição, porque na<strong>da</strong><br />

pertendia, nem o molestavam vingativos sentimentos, pois na morte de sua<br />

ingrata esposa e falso amigo se tinham sepulta<strong>do</strong> suas memórias. Assim isento<br />

dessa pensão <strong>do</strong>s cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s (que nunca foram os cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s limita<strong>da</strong> pensão de<br />

quem os sustenta) passava a vi<strong>da</strong>; que só pode com razão dizer que vive quem<br />

sem cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s a passa, que o viver com cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s mais é durar <strong>do</strong> que viver.<br />

Era o tempo <strong>da</strong> Primavera entre Abril e Maio, coroa flori<strong>da</strong> <strong>do</strong> ano,<br />

quan<strong>do</strong> este se mostra mais alegre para desterrar as tristezas <strong>do</strong> Inverno, que<br />

até os campos sentiram, sen<strong>do</strong> incapazes <strong>do</strong> sentimento. Vestia o sol com<br />

seus benignos raios os campos <strong>da</strong> verde e vistosa libré de sua relva, de quem<br />

aprendiam as esmeral<strong>da</strong>s as agradáveis lições de seus luzi<strong>do</strong>s ver<strong>do</strong>res e os<br />

pra<strong>do</strong>s trajan<strong>do</strong>-se de gala natural de suas flores eram lisonja apeteci<strong>da</strong> <strong>do</strong>s<br />

olhos e recreio aplaudi<strong>do</strong> <strong>da</strong> vista. Ouvia-se a suave melodia <strong>da</strong>s músicas aves<br />

que, entre o delicioso <strong>do</strong> bosques, cantan<strong>do</strong> sem solfa se mostravam tão<br />

destras nos assentos de sua harmonia, que lhe tinha passa<strong>do</strong> a natureza carta<br />

de exame para cantarem não menos seguras que confia<strong>da</strong>s, alegran<strong>do</strong> a to<strong>do</strong>s<br />

os passageiros que as ouviam para que <strong>da</strong> moléstia <strong>do</strong> caminho<br />

descansassem; pois, como ensina Aristóteles, to<strong>da</strong>s as moléstias com a<br />

música se aliviam.

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