17.04.2013 Views

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

328 Padre Mateus Ribeiro<br />

por que amou a Xenócrita, que foi causa de sua morte? E outros sem número<br />

que referir pudera. E to<strong>do</strong>s dirão que amor não conhece os perigos, porque tem<br />

os olhos ven<strong>da</strong><strong>do</strong>s aos temores. Enganou-se Juliano como amante, desculpas<br />

tem no amor, escusas na i<strong>da</strong>de; pois, como ensina Aristóteles, mal se casa a<br />

prudência com o juvenil <strong>do</strong>s anos. Antes, diz Santo Ambrósio, está sempre a<br />

moci<strong>da</strong>de vizinha ao precipício. Teve-se me Alexandre a modéstia com que se<br />

houve com a mulher de Dário por admiração, em Roma o segre<strong>do</strong> em Papirio<br />

por espanto, a continência de Cipião em Espanha por maravilha; porque <strong>do</strong><br />

juvenil de seus anos eram acções que mal se prometiam, eram morais virtudes<br />

que menos se esperavam, como ensina São João Crisóstomo.<br />

Pois sen<strong>do</strong> em Juliano desculpa a fermosura que amava e escusa o<br />

juvenil de seus anos, ficam sen<strong>do</strong> as temeri<strong>da</strong>des que emprendia efeitos de<br />

seu amor que o incitava. E se se despenhou como cego, abriu os olhos agora<br />

como desengana<strong>do</strong>. De quem a si próprio se ofende, menos se pode admirar<br />

que ofen<strong>da</strong> a outros. De quem consigo mesmo foi cruel, como há-de ser com<br />

os outros pie<strong>do</strong>so? Porque como as primeiras acções se julgam por delírios de<br />

quem se ofende, que novi<strong>da</strong>de será que as outras se avaliem por frenéticas?<br />

Pois, senhores, se Juliano para si próprio fabricou os <strong>da</strong>nos, como repararia<br />

nos alheios? Confiou de mouros sua ventura e experimentou neles sua<br />

desgraça. Persuadiu-se ser ícaro <strong>do</strong>s raios <strong>do</strong> sol, viu-se despenha<strong>do</strong> ao mar<br />

de suas lágrimas. Era senhor, viu-se cativo; era livre, achou-se prisioneiro; que<br />

mais castigo para um erro que padecer juntos tantos castigos? Bem considero<br />

que pudera ser o <strong>da</strong>no irreparável se os mouros usassem como tais <strong>da</strong><br />

violência. Não o permitiu Deus por seus ocultos juízos. Ficou a senhora<br />

Lucin<strong>da</strong> sem ofensa, vós sem mágoa e to<strong>do</strong>s sem o sentimento que havia de<br />

causar sua per<strong>da</strong> a to<strong>do</strong>s. Aberta está a porta à pie<strong>da</strong>de, que se em Roma o<br />

templo de Jano só na paz se fechava, as portas <strong>do</strong> <strong>da</strong> pie<strong>da</strong>de na guerra e na<br />

paz sempre se abriam. Pendente está o cutelo sobre a garganta <strong>do</strong> prisioneiro<br />

Juliano: que acção mais heróica pode ser em vós que <strong>da</strong>r-lhe a vi<strong>da</strong>? Para<br />

matar, qualquer acidente é poderoso; mas para <strong>da</strong>r a vi<strong>da</strong>, força mais superior<br />

é necessária. Pender de vosso querer sua morte ou sua vi<strong>da</strong> é serdes<br />

potenta<strong>do</strong> sobre <strong>do</strong>us extremos. Muitos podem <strong>da</strong>r a morte e não a vi<strong>da</strong>; mas<br />

vós podeis <strong>da</strong>r-lhe a vi<strong>da</strong> e mais a morte. A cruel<strong>da</strong>de to<strong>do</strong>s os achaques cura<br />

com ferro; mas a clemência com lenitivos <strong>da</strong> brandura. As leis que Draco deu

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!