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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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834 Padre Mateus Ribeiro<br />

censura<strong>da</strong> a cura por dilata<strong>da</strong>, duvi<strong>do</strong>sa a esperança pelo desejo, então<br />

reconhece <strong>da</strong> saúde o valor que o diverti<strong>do</strong> <strong>do</strong> logro desconhecia. O cativo ou<br />

preso sujeito ao alheio arbítrio, ao querer de quem o man<strong>da</strong>, impedi<strong>do</strong>s os<br />

passos <strong>da</strong>s cadeias, <strong>da</strong>s chaves a saí<strong>da</strong> e, como diz Quintiliano 767 , ven<strong>do</strong> a<br />

outros com quem se criou tão senhores de sua vontade an<strong>da</strong>rem sem registrar<br />

seu caminho, passearem sem depender nem de licença que escusam, nem<br />

<strong>do</strong>s obséquios que evitam, independentes <strong>do</strong> temor, inofensos ao perigo, no<br />

mesmo tempo alegres quan<strong>do</strong> o preso triste, então vem a conhecer o precioso<br />

<strong>da</strong> liber<strong>da</strong>de quan<strong>do</strong> a vê perdi<strong>da</strong>, para saber estimá-la quan<strong>do</strong> a tiver<br />

restaura<strong>da</strong>.<br />

Não de outra sorte, senhor Roberto, o carecerdes agora <strong>da</strong> presença de<br />

vossa esposa, tanto para estima<strong>da</strong>, vos servirá de motivo de maior alegria,<br />

experimentan<strong>do</strong> o desgosto presente para ser superlativo o contentamento<br />

futuro. Se sentis a dúvi<strong>da</strong> de que vossa esposa apareça, temor é <strong>do</strong> desejo<br />

mais que impossibili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> esperança. Nunca advertistes em um ban<strong>do</strong> de<br />

pombas, quan<strong>do</strong> nas frescas margens de um rio sobre os ver<strong>do</strong>res <strong>da</strong> relva,<br />

sobre os debuxos <strong>da</strong>s flores, an<strong>da</strong>m cui<strong>da</strong><strong>do</strong>sas buscan<strong>do</strong> o sustento com que<br />

se criam, descui<strong>da</strong><strong>da</strong>s <strong>do</strong> perigo que a sinceri<strong>da</strong>de não prevê para a cautela e<br />

que a inocência não teme para o asilo? Porém apenas <strong>do</strong> caça<strong>do</strong>r se ouviu o<br />

fogoso trovão <strong>da</strong> homici<strong>da</strong> espingar<strong>da</strong>, relâmpago e raio juntos para verdugo<br />

<strong>da</strong>s vi<strong>da</strong>s, quan<strong>do</strong> intimi<strong>da</strong><strong>da</strong>s <strong>do</strong> estron<strong>do</strong> e explora<strong>do</strong>ras <strong>do</strong> risco buscam na<br />

ligeireza <strong>da</strong>s asas refúgio ao receio, subsídio ao temor e segurança ao funesto,<br />

desamparan<strong>do</strong> o sustento que cui<strong>da</strong><strong>do</strong>sas repetiam. Passou o trágico susto <strong>do</strong><br />

ameaço que despediu a pólvora, talvez aplica<strong>da</strong> a outro fim, serenou o ar a<br />

fumosa nuvem, abonançou o inquieto movimento <strong>da</strong> trepi<strong>da</strong>ção repentina,<br />

respirou o receio <strong>do</strong> assalto presumi<strong>do</strong>, parou em tréguas o bélico fracasso,<br />

<strong>da</strong>n<strong>do</strong> lugar a sossegar a desconfiança acidental <strong>da</strong> volátil esquadra<br />

columbina, e logo tornam ao pasto que deixaram, trocan<strong>do</strong> a região <strong>do</strong> ar pela<br />

ameni<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s verdes margens <strong>do</strong> cristalino rio.<br />

Fugiu, senhor Roberto, vossa esposa à evidência <strong>da</strong> morte, ven<strong>do</strong> que<br />

não era ouvi<strong>da</strong> a inocência no severo tribunal de vossa ira. Assombrou-se <strong>do</strong><br />

rigor não mereci<strong>do</strong>, largou as asas ao receio, ven<strong>do</strong> que a não assegurava a<br />

Qin., Decl. 13.

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