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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte VI 977<br />

<strong>da</strong>s nuvens querem ser explora<strong>do</strong>ras <strong>do</strong>s primeiros rasgos <strong>da</strong> aurora antes que<br />

se descubra ao hemisfério, que nos poemas se equivoca com o céu pelo altivo,<br />

que parece se desnaturaliza <strong>da</strong> terra pelo eleva<strong>do</strong>, qual considero a Fenisa no<br />

imperioso, pudera facilmente ressentir-se de que pequenos montes igualá-la<br />

presumissem. E pois, pelo que referis, obraram nela as vésperas de vossa<br />

ausência o man<strong>da</strong>r chamar-vos para ouvir-vos, muito navegastes em breve<br />

tempo, pois nunca chega a chamar para o deter, quem não sente cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s em<br />

outro sujeito se partir. E suposto que com a improvisa chega<strong>da</strong> de Raimun<strong>do</strong><br />

se mal logrou o oportuno <strong>da</strong> ocasião, esta falta leva consigo a desculpa quan<strong>do</strong><br />

se saiba.<br />

Pretende Raimun<strong>do</strong> com instâncias casar-se com Fenisa: não seria este<br />

o maior espanto, que outras maravilhas maiores e em príncipes mais<br />

soberanos foram no mun<strong>do</strong> triunfos <strong>da</strong> fermosura, como tantas histórias<br />

referem, de Semíramis em Ásia, Ebia em Calcedónia, Roxanes em Babilónia,<br />

Valeria em Roma, Teo<strong>do</strong>ra em Constantinopla e outras sem número que referir<br />

pudera. Assim que fazer eleição Raimun<strong>do</strong> <strong>da</strong>s muitas pren<strong>da</strong>s de Fenisa mais<br />

me parece abono de seu juízo <strong>do</strong> que o julgo por censura de seu poder. Nos<br />

casamentos por contratos em alheios senhorios, aonde o duque de Módena<br />

seu pai terá intentos de casá-lo, mais se respeitam as conveniências <strong>do</strong> que o<br />

gosto, mais se atende ao útil que à vontade. Porém Raimun<strong>do</strong>, fazen<strong>do</strong> <strong>da</strong>s<br />

conveniências pouca estimação, escolhe o melhor que podia achar-se para<br />

esposa, que aonde tem votos o desejo não se admitem conveniências que tem<br />

os fun<strong>da</strong>mentos na razão. O intentardes desistir <strong>da</strong> pretensão <strong>do</strong> casamento de<br />

Fenisa por verdes a Raimun<strong>do</strong> tão alenta<strong>do</strong> opositor? Para valor de amante<br />

tinha muito o retiro de covardia e para título de amizade tinha pouco de<br />

obrigação; pois com Raimun<strong>do</strong> até o presente nenhuma tivestes para que ela<br />

vos persuadisse a essa fineza, que deixásseis de procurardes esposa de tão<br />

supremo valor por verdes empenha<strong>do</strong> a outro na pretensão. Não se acha ca<strong>da</strong><br />

dia uma ventura igual, pois esta perdi<strong>da</strong>, nenhuma outra a pode restaurar, que<br />

emparelhar com Fenisa ela só pode igualar consigo mesma. Para que quereis<br />

depois arrepender-vos de fechardes as portas à ventura, quan<strong>do</strong> o pesar não<br />

traz remédio ao <strong>da</strong>no? Para que intentáveis viver desespera<strong>do</strong>, quan<strong>do</strong> tendes

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