17.04.2013 Views

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte III 485<br />

Contu<strong>do</strong> confio eu tanto, senhor Vespasiano, de vossa prudência e confio tanto<br />

<strong>do</strong> que vos merece o vínculo antigo de nossa amizade que estimarei ouvir-vos,<br />

suposto que vivo tão desespera<strong>do</strong> <strong>do</strong> remédio.<br />

- Sempre os conselhos, senhor conde, merecem ser ouvi<strong>do</strong>s, disse<br />

Vespasiano, ain<strong>da</strong> quan<strong>do</strong> não hajam de ser aceitos. Porque Plutarco 468<br />

escreve que to<strong>do</strong>s necessitamos de ser aconselha<strong>do</strong>s enquanto vivemos.<br />

Porque como as paixões <strong>da</strong> alma pintem as cousas de diferentes cores <strong>da</strong>s<br />

que em si tem, a esperança de verde, o temor páli<strong>do</strong>, a ira de sangue, a<br />

tristeza de negro e o amor de flori<strong>do</strong>, só quem se acha livre destas paixões que<br />

nos cegam tem livres os olhos para ver as cousas com as próprias cores de<br />

que as vestiu a natureza e o tempo, e não com as de que as sobrevestem as<br />

paixões eficazes que a alma sente.<br />

Primeiramente não intento aprovar a escolha <strong>da</strong> senhora Flora por<br />

acerta<strong>da</strong>, pois assim no essencial como no mo<strong>do</strong> leva consigo tanto desacerto:<br />

só procuro consolar vossa mágoa e aplicar-lhe o remédio que o esta<strong>do</strong><br />

presente admitir pode. Entre os naturais bens que Deus Senhor nosso<br />

concedeu aos homens me parecem <strong>do</strong>us os principais, quais são a vi<strong>da</strong> e a<br />

liber<strong>da</strong>de. Da vi<strong>da</strong> quis ele só ser senhor, <strong>da</strong> liber<strong>da</strong>de quis que o fosse o<br />

homem. A senhora Flora era livre para eleger esta<strong>do</strong>, usou <strong>do</strong>s privilégios <strong>da</strong><br />

vontade, guian<strong>do</strong>-se somente pelos ditames <strong>do</strong> amor. Esta diferença põe<br />

Aristóteles 469 entre os livres e os escravos, que estes vivem à vontade <strong>do</strong> seu<br />

senhor e os livres vivem à sua vontade própria. É a liber<strong>da</strong>de nas eleições,<br />

disse Diógenes 470 , <strong>do</strong>m <strong>do</strong> Céu e mimo inestimável <strong>da</strong> ventura: seus perigos<br />

tem a liber<strong>da</strong>de, disse o Séneca 471 , quan<strong>do</strong> pelo justo não se regula. Mas quem<br />

há-de coarctar os indultos de livre se a natural razão os não modera? Que a<br />

senhora Flora escolhesse esposo a vosso gosto, obrigação era, que a razão o<br />

pedia; foi mais poderoso o amor em persuadi-la <strong>do</strong> que a reverência <strong>do</strong> pai em<br />

moderá-la; usou <strong>do</strong>s privilégios de livre na eleição porque teve o querer mais<br />

468 Plut., De amicit. & adul.<br />

469 Arist., Polit. 6.<br />

470 Diog., apud Laert.<br />

471 Senec, Epist. 9.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!