17.04.2013 Views

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

O <strong>caso</strong> Mateus Ribeiro 71<br />

filho <strong>do</strong> caritativo senhor que os hospe<strong>do</strong>u hóspede porque, sen<strong>do</strong> antes por<br />

extremo liberal para com os pobres, depois lhe nascer o filho descui<strong>do</strong>u-se por<br />

completo <strong>da</strong> aju<strong>da</strong> que prestava, oferecen<strong>do</strong> deste mo<strong>do</strong> tão cruel ao pai<br />

ocasião de continuar as obras cari<strong>do</strong>sas.<br />

Felisberto, após enunciar esta narrativa, refere também a sua lição:<br />

"Desta história podemos inferir algumas razões e conjecturas <strong>da</strong> causa porque<br />

Deus senhor nosso permite que no mun<strong>do</strong> haja tantos viciosos favoreci<strong>do</strong>s e<br />

estima<strong>do</strong>s, e pelo contrário tantos virtuosos desestima<strong>do</strong>s e persegui<strong>do</strong>s; (...)<br />

por ocultos juízos de sua eterna Providência, que com sabe<strong>do</strong>ria infinita assim<br />

o dispõe para os fins que nós não alcançamos, nem nesta mortal vi<strong>da</strong> os<br />

conhecemos." 134<br />

Continuan<strong>do</strong> a justificar as ocultas disposições <strong>da</strong> Providência Divina,<br />

Felisberto refere a Dionísio a história de Eulógio 135 , um pobre cavouqueiro que<br />

de repente se tornou por extremo rico ao encontrar um tesouro, logo<br />

esquecen<strong>do</strong> a hospitali<strong>da</strong>de e a cari<strong>da</strong>de de que usava anteriormente,<br />

chegan<strong>do</strong> a privar na companhia <strong>do</strong> impera<strong>do</strong>r Justino, em Constantinopla.<br />

Com a morte deste, confisca<strong>da</strong>s to<strong>da</strong>s as suas riquezas e priva<strong>do</strong> <strong>do</strong>s cargos<br />

que tinha, viu-se novamente na pobreza. Fin<strong>da</strong> a narrativa, o Ermitão explica<br />

que "Desta história se pode inferir o como são disposições <strong>da</strong> Divina<br />

Providência que muitos justos e beneméritos não subam à digni<strong>da</strong>de, nem<br />

possuam riquezas, para que elas os não pervertam, queren<strong>do</strong> que humildes se<br />

assegurem e não que autoriza<strong>do</strong>s se arrisquem; e querer compreender seus<br />

juízos é querer encerrar em breve concha o oceano mais dilata<strong>do</strong>." 6<br />

Podemos ain<strong>da</strong> apontar outro exemplum inseri<strong>do</strong> na narrativa como forma<br />

de deleitar e simultaneamente incitar à modificação de procedimentos<br />

desacerta<strong>do</strong>s. Narran<strong>do</strong> ao Peregrino Dionísio os sucessos que o conduziram<br />

à fuga <strong>da</strong> corte e ao retiro na sua ermi<strong>da</strong>, Felisberto refere a história de<br />

Frederico, um filho de pobres pesca<strong>do</strong>res que se graduou em Leis. Sen<strong>do</strong><br />

134 Mateus RIBEIRO, Alivio de tristes e consolação de queixosos, p.156.<br />

135 Estas pequenas narrativas, inseri<strong>da</strong>s na obra de Mateus Ribeiro com função marca<strong>da</strong>mente<br />

exemplar, ocorrem também nas obras de autores com iguais intuitos didácticos. É o <strong>caso</strong> de<br />

Manuel BERNARDES, que apresenta a narrativa de Eulógio como "Exemplo notável <strong>da</strong><br />

incerteza <strong>da</strong>s honras e riquezas mun<strong>da</strong>nas", in Nova Floresta, ed. cit.<br />

136 Mateus RIBEIRO, Alivio de tristes e consolação de queixosos, Parte I, p.159.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!