17.04.2013 Views

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte VI 937<br />

não pôde alcançar Raimun<strong>do</strong> com ser amante, de quem disse Plínio Júnior 939<br />

que parecia cousa incrível o amar muito e <strong>do</strong> sujeito ama<strong>do</strong> saber pouco. Quis<br />

Raimun<strong>do</strong> intentar outra caça<strong>da</strong>, para com este disfarce ou poder ver ou falar<br />

com Fenisa, de cuja condição com as ofertas de ser seu esposo presumia que<br />

estaria mais benévola para ouvir e atender a suas finezas e mais propícia em<br />

estimar as ofertas de ser seu esposo que com ver<strong>da</strong>deira vontade lhe havia<br />

feito. Porém em tu<strong>do</strong> se enganou sua esperança, como pela maior parte<br />

desfalecem as que se põem nas criaturas, como escreve Cícero 940 , quan<strong>do</strong> se<br />

certificou que Frederico com to<strong>da</strong> a casa se mu<strong>da</strong>ra de assento para Bolonha,<br />

senhorio de outra jurisdição, qual é a <strong>da</strong> Igreja, e em que o duque seu pai<br />

nenhuma tinha; pouco lhe faltou para tornar-se louco, se porventura quem<br />

afectuosamente ama se isenta de loucura, haven<strong>do</strong> uma só letra de diferença<br />

entre amente e amante, <strong>do</strong>nde veio a dizer Menandro, tirano de Samos, que há<br />

loucuras que se tomam por vontade, e sem dúvi<strong>da</strong> o entendeu <strong>do</strong> amor, pois o<br />

filósofo 941 lhe chamou furor ou aparente insânia. Aqui renunciou Raimun<strong>do</strong> ao<br />

sofrimento, desesperou <strong>da</strong> ventura, julgou por infelice sua sorte, avaliou por<br />

implacável seu tormento, censurou por infausta sua estrela, por calamitoso seu<br />

destino e finalmente sentenciou por malogra<strong>do</strong> o culminante de seu requinta<strong>do</strong><br />

amor, tão fino nos extremos como nos prémios desgraça<strong>do</strong>.<br />

- Mas que importa (exclamava ele), se é infelice a obrigação de<br />

merecer, aman<strong>do</strong> sem ventura! Ausentou-se Fenisa, poden<strong>do</strong> acabar com seu<br />

coração, o que eu não posso conseguir com a memória; porque nasce o amor<br />

<strong>do</strong> coração, mas o esquecimento <strong>da</strong> memória, e vive ela na minha tão<br />

eficazmente viva como eu na sua assisti sempre morto. São as sau<strong>da</strong>des filhas<br />

<strong>do</strong> amor e <strong>da</strong> memória, porque nem pode produzi-las o que está esqueci<strong>do</strong>,<br />

nem causá-las o que nunca foi ama<strong>do</strong>. Fenisa nenhumas de mim tem, porque<br />

a memória nunca comigo a ocupou e o amor jamais em mim o colocou sua<br />

dureza; porém em mim viverão eterniza<strong>da</strong>s, porque um e outro me sobram.<br />

Porém <strong>da</strong>s esquivanças com que me trata, apelará meu sentimento para a<br />

vingança em que só respira minha <strong>do</strong>r. Já o estu<strong>do</strong> de meu sofrimento é inútil<br />

Plin. Jun., Lib. 4.<br />

Cicer., 3. De Orat.<br />

Arist., apud Stob.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!