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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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180 Padre Mateus Ribeiro<br />

cegasse, ele finalmente foi seu amante de tal mo<strong>do</strong> que um dia desapareceu<br />

minha esposa em sua companhia, estan<strong>do</strong> ausente <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de algumas milhas,<br />

levan<strong>do</strong> juntamente to<strong>do</strong> o <strong>do</strong>te e jóias de valor que recebi<strong>do</strong> tinha, ven<strong>do</strong>-me<br />

em um instante sem honra, sem amigo e sem fazen<strong>da</strong>, quan<strong>do</strong> mais venturoso<br />

me julgava, aprovan<strong>do</strong> por ver<strong>da</strong>deiro aquele dito de Euripides 252 : que a causa<br />

mais agradável vinha a ser a mais penosa e triste. Se somente me vira pobre e<br />

sem remédio por me ser rouba<strong>da</strong> a fazen<strong>da</strong>, não desanimara meu valor, que<br />

muitos pobres houve no mun<strong>do</strong> que na pobreza sua constância imortalizaram.<br />

De Agesilau, um pobre velho de arcádia, disse o oráculo a Giges, poderoso rei<br />

de Lídia, que era muito mais feliz que ele porque se contentava de uma<br />

pequena casa que tinha, em que vivia e com que sua família sustentava.<br />

De Gelipo, insigne capitão lacedemónio, se escreve viver tão pobre que<br />

não menos causava admiração com suas vitórias <strong>do</strong> que com a pobreza de<br />

seus vesti<strong>do</strong>s, muitas vezes rotos e maltrata<strong>do</strong>s. Tão pobre morreu o insigne<br />

capito romano Menénio Agripa que se o povo romano com expensas públicas<br />

lhe não fizera as funerais exéquias em sua morte, de que romanos ilustres<br />

usavam, sem elas seria sepulta<strong>do</strong>. A Ab<strong>do</strong>lomino deu o grande Alexandre o<br />

ceptro de Sidónia sen<strong>do</strong> tão pobre que, com ser descendente <strong>do</strong>s reis <strong>da</strong>quela<br />

ci<strong>da</strong>de, cultivava com suas próprias mãos uma pequena horta para sustentar-<br />

se, pela qual constância e valor que na pobreza mostrara o avaliou o grande<br />

monarca por digno <strong>da</strong> cora que lhe oferecia. À vista <strong>da</strong> grande pobreza de<br />

Diógenes, e desprezo que fez <strong>da</strong>s grandes ofertas de Alexandre, disse ele que<br />

se possível lhe fora deixar de ser Alexandre, escolhera somente ser Diógenes.<br />

Se o considerar-me agrava<strong>do</strong> de um amigo fora só a queixa e<br />

sentimento de minha ofensa, ain<strong>da</strong> achara consolação em o grande Dário, rei<br />

de Pérsia, traí<strong>do</strong> e morto por Besso e Nabarzanes, seus amigos e mais<br />

favoreci<strong>do</strong>s. Igualmente foi Júlio César morto por Bruto e Cássio, de quem<br />

mais se fiava. Cícero, aquele assombro <strong>da</strong> eloquência latina, foi morto<br />

tiranamente por Pompílio Lenas, a quem ele oran<strong>do</strong> em seu favor tinha livra<strong>do</strong><br />

<strong>da</strong> morte, e ain<strong>da</strong> em nossos tempos o duque de Florença, Alexandre de<br />

Médices, foi morto trai<strong>do</strong>ramente por Lourenço de Médices, não somente seu<br />

parente, mas seu priva<strong>do</strong> e maior amigo. Porém que houvesse eu de ser<br />

Eurip., in Hyp.

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