17.04.2013 Views

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

930 Padre Mateus Ribeiro<br />

com suas cria<strong>da</strong>s era i<strong>da</strong> a um <strong>do</strong>s casais vizinhos, junto às ribeiras <strong>do</strong> rio, que<br />

por não perder a delícia de ser <strong>da</strong> fermosura de Fenisa espelho em que se<br />

retratava, fazia de suas on<strong>da</strong>s cristalino estanque, por ao vivo ser insensível<br />

Apeles <strong>da</strong> maior beleza. De tu<strong>do</strong> tinha contínuos avisos Raimun<strong>do</strong>, porque<br />

dentro em casa de Frederico havia confidente cria<strong>do</strong> que ocultamente de tu<strong>do</strong><br />

o noticiava. Retirou-se ao arvore<strong>do</strong> de uma fonte que no caminho ficava,<br />

desmontan<strong>do</strong> <strong>do</strong> cavalo que deu a um cria<strong>do</strong>, esperan<strong>do</strong> que Fenisa para a<br />

quinta voltasse, a quem sain<strong>do</strong> <strong>da</strong> verde embosca<strong>da</strong> de repente lhe atravessou<br />

o caminho. Assustou-se Fenisa <strong>do</strong> não espera<strong>do</strong> encontro, cobriu de púrpura a<br />

neve e <strong>da</strong> grã mais fina os can<strong>do</strong>res <strong>do</strong> cristal, e antes aumentou a fermosura<br />

<strong>do</strong> que diminuísse a beleza, sen<strong>do</strong> desta singular privilégio com to<strong>do</strong>s os<br />

ventos sempre navegar segura em quem parece que as sublunares impressões<br />

<strong>do</strong>minar não se atrevem. Perturbou-se Raimun<strong>do</strong> ven<strong>do</strong> ao perto quem o feriu<br />

de longe e na campanha arma<strong>da</strong> de desdém quem ao longe o matava a<br />

esquivanças; e sen<strong>do</strong> tal de Raimun<strong>do</strong> o valor que não o podia intimi<strong>da</strong>r o<br />

muito perigo, chegou a desanimar a maior fermosura de tal sorte seus senti<strong>do</strong>s<br />

com sua vista, que absorto no belo que via e na esquivança que receava,<br />

empenhan<strong>do</strong> os olhos só em vê-la parece que só com eles falava e com a voz<br />

na<strong>da</strong> dizia. Porém tornan<strong>do</strong> em si desta suspensão amorosa, por não perder a<br />

ocasião que lhe ofereceu a ventura, entre assusta<strong>do</strong> e eloquente, dizem que<br />

lhe falou desta sorte:<br />

Cap. V.<br />

Da prática que Raimun<strong>do</strong> teve com Fenisa e <strong>do</strong> que dela resultou<br />

- Com ver<strong>da</strong>de posso afirmar, ingrata Fenisa, que este breve espaço de<br />

me ouvirdes deverei à obrigação <strong>da</strong> cortesia mais <strong>do</strong> que ao desempenho <strong>do</strong><br />

teu amor. Infelice quem ama aborreci<strong>do</strong>, pois pretenden<strong>do</strong> merecer, na<strong>da</strong><br />

merece; venturosa tu que alcançaste o senhorio de meu coração para fazeres<br />

ludíbrio de meu padecimento, castigan<strong>do</strong> ao rigor de esquivanças tuas minhas<br />

finezas, como se o querer-te bem fora fazer-te mal. Como se permite fazeres<br />

ponte de ser queri<strong>da</strong> para passar o rio <strong>do</strong> esquecimento tua ingratidão? Não<br />

condizem os visos de tua fermosura com os desaires de cruel, porque em

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!