17.04.2013 Views

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

426 Padre Mateus Ribeiro<br />

silêncio, meu pai como mais ancião e a quem pela pessoa e i<strong>da</strong>de se devia<br />

diferente respeito, conhecen<strong>do</strong> em mim a mágoa e em Dom Cláudio a ira,<br />

pon<strong>do</strong> os olhos em Alberto, falou assim:<br />

- Trouxeste-nos, senhor Alberto, à vossa quinta para nela nos<br />

desenganardes <strong>do</strong> que já meu discurso antecipa<strong>da</strong>mente quasi previa: que os<br />

excessos de vossa cortesia nasciam <strong>do</strong>s excessos de vosso amor. Pouco vos<br />

devemos nos festejos e regalos, pois nos <strong>da</strong>is as despedi<strong>da</strong>s tão desabri<strong>da</strong>s,<br />

pois o que corria por conta <strong>da</strong> senhora Amatilde não fica sen<strong>do</strong> dívi<strong>da</strong> de nossa<br />

obrigação. Mal aprendeu meu filho Felizar<strong>do</strong> a lição que hoje nos destes, pois<br />

ten<strong>do</strong> em minha casa a senhora marquesa, quis pôr em contingências por<br />

primoroso o que vós hoje alcançais por resoluto. Antecipar a fortuna, disse<br />

Plutarco, arrojo é <strong>do</strong>s venturosos, não <strong>do</strong>s entendi<strong>do</strong>s: que corta muitas vezes<br />

o pun<strong>do</strong>nor pelas mesmas razões <strong>da</strong> utili<strong>da</strong>de. No banquete que deu Sexto<br />

Pompeu na sua nau a Octaviano Augusto e a Marco António, que ambos o<br />

império romano tinham, lhe advertiu em segre<strong>do</strong> Meno<strong>do</strong>ro se queria que<br />

cortan<strong>do</strong> as amarras se partisse com a nau, com que levan<strong>do</strong> aos <strong>do</strong>us<br />

príncipes prisioneiros seria ele só senhor <strong>do</strong> império <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>; ao que ele lhe<br />

respondera que uma vez que lho comunicou, já não convinha, porque ele o<br />

pudera haver feito como súbdito, que a ele lhe não convinha fazê-lo como<br />

príncipe, desestiman<strong>do</strong> a ventura por não contrair a nota. Eu, senhor Alberto,<br />

obedeci às ordens <strong>do</strong> meu príncipe em trazer a senhora Amatilde à sua<br />

presença e hospedá-la em vossa casa vós usais como livre em levantar-vos<br />

com ela; e para vós ficardes venturoso, força era ser meu filho desgraça<strong>do</strong>.<br />

Vejo na senhora Amatilde sentir pouco a mu<strong>da</strong>nça, sinal que está mu<strong>da</strong><strong>da</strong>:<br />

empenhos que nascem <strong>da</strong> vontade não se levam com violências, a meu filho<br />

não faltará esta<strong>do</strong> a quem é conveniente, que pois a senhora Amatilde se não<br />

considerou dele obriga<strong>da</strong>, não é maravilha que não se mostre agradeci<strong>da</strong><br />

quan<strong>do</strong> a quem não favorece a ventura não causa o desvelo maior no servir<br />

direito ao galardão alcançar.<br />

Com isto se levantou meu pai e nós to<strong>do</strong>s ao mesmo tempo, e minha<br />

mãe ao despedir-se de Amatilde disse que estimaria muito que a fortuna lhe<br />

não desse a sentir motivos de em algum tempo se queixar. A que ela não<br />

respondeu mais que com as lágrimas que derramou, ou de sau<strong>da</strong>des <strong>da</strong><br />

despedi<strong>da</strong>, ou juntamente de não ter desculpa sua mu<strong>da</strong>nça; que há ofensas

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!