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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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790 Padre Mateus Ribeiro<br />

man<strong>da</strong>n<strong>do</strong> aos cria<strong>do</strong>s tivessem as armas prepara<strong>da</strong>s para o que sucedesse,<br />

lhe disse:<br />

- Não temas, Lívia, nem enterneças teus olhos a buscarem pie<strong>do</strong>sos<br />

afectos no que imaginas perigo, que te prometo que primeiro me vejas morto<br />

<strong>do</strong> que te consideres ofendi<strong>da</strong>. Tomei por minha conta teu amparo, empenhei<br />

em segurar-te meu patrocínio: sou nobre e não hei-de faltar enquanto me durar<br />

a vi<strong>da</strong>.<br />

Chegaram neste tempo dez de cavalo bem arma<strong>do</strong>s e perguntaram aos<br />

<strong>do</strong> casal por mi e por uma mulher que comigo vinha. Dei ordem a que Lívia se<br />

retirasse com as lavra<strong>do</strong>ras, que estavam ansia<strong>da</strong>s com o sobressalto, e eu,<br />

chegan<strong>do</strong> à porta, confia<strong>do</strong> perguntei o que queriam. Tirou um deles a máscara<br />

que trazia e conheci que era Roberto, o mari<strong>do</strong> de Lívia, que acompanha<strong>do</strong> de<br />

oito parentes seus autoriza<strong>do</strong>s vinha em meu seguimento, e apean<strong>do</strong>-se to<strong>do</strong>s<br />

<strong>do</strong>s cavalos, Roberto me falou desta sorte:<br />

- O amparo nas aflições, senhor Lisar<strong>do</strong>, <strong>da</strong><strong>do</strong> a quem o pede, ou com<br />

vozes ou com lágrimas, acção é digna de louvar-se, como diz Plínio 689 , nem eu<br />

o reprovo, nem o mun<strong>do</strong> o condena. Porém exceder no patrocínio o lícito, para<br />

que passan<strong>do</strong> de socorro venha a ser manifesto agravo, não há razão que o<br />

aprove, nem lei que o permita. Confesso que a Lívia, minha mulher, intentei <strong>da</strong>r<br />

a morte por me imaginar dela ofendi<strong>do</strong>, ou fosse persuasão de meus ciúmes,<br />

ou fosse desgraça sua, ou infelici<strong>da</strong>de minha. Acudistes a socorrê-la: acção foi<br />

pie<strong>do</strong>sa e empenho de ânimo nobre e valeroso. Porém intentardes<br />

ausentardes-vos com ela excede os limites <strong>do</strong> amparo e passa aos desaires de<br />

ofensa. Se dentro em Bolonha tratásseis de assegurá-la, ela vos deveria o<br />

patrocínio e eu a cortesia; porém no termo que usastes em pretenderdes que a<br />

Cesena vos siga, nem a ela assegurais a vi<strong>da</strong> nem a reputação, nem a mi<br />

guar<strong>da</strong>stes o respeito devi<strong>do</strong> a quem sou. Eu venho com estes parentes meus<br />

que me acompanham delibera<strong>do</strong> a levá-la comigo, e se o intentardes impedir,<br />

as armas o julgarão, pois a justiça me abona e a vós a sem-razão condena.<br />

A esta proposta respondi eu, dizen<strong>do</strong>:<br />

- Com menos resolução, senhor Roberto, vos vi eu esta manhã junto a<br />

Bolonha, aonde pudéreis sem inquietar a estes senhores que vos acompanham<br />

Plin. Sen, Lib. 15.

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