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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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1004 Padre Mateus Ribeiro<br />

Tenho, senhor, mostra<strong>do</strong> as desculpas que tem por sua parte os sujeitos<br />

de quem vossa excelência tão ofendi<strong>do</strong> se mostra, que justa desculpa fica<br />

ten<strong>do</strong> quem sabe acautelar aos perigos, pois príncipes soberanos ofendi<strong>do</strong>s<br />

raramente concedem quartel aos de quem se mostram agrava<strong>do</strong>s. Temen<strong>do</strong> as<br />

vingativas iras de sua alteza não se atreverão a abrir as portas à ventura,<br />

porque com ela não entrassem juntamente as desgraças, pois na companhia<br />

<strong>do</strong>s temores não pode haver ventura que o pareça. Perguntemos a Dâmocles<br />

quem lhe embargava as mãos, quem lhe suspendia o gosto para não comer os<br />

manjares mais deliciosos <strong>da</strong> real mesa de Dionísio, tirano de Sicília, e<br />

responderá que a homici<strong>da</strong> espa<strong>da</strong> que de um fio ténue e frágil sobre a cabeça<br />

pendura<strong>da</strong> via, ameaçan<strong>do</strong> a caí<strong>da</strong> por instantes, lhe dessazonou o gosto <strong>do</strong>s<br />

manjares, lhe suspendeu a alegria <strong>do</strong> convite régio que diante tinha, bastan<strong>do</strong><br />

o agro de um temor para fazer amarga to<strong>da</strong> a <strong>do</strong>çura <strong>da</strong>s mais preciosas<br />

iguarias. Só a segurança, diz Séneca 1071 , é mar em calma, pláci<strong>da</strong>s on<strong>da</strong>s,<br />

maré de rosas, tempo sereno, navegação sem temores e baixel sem perigos.<br />

Exagera vossa excelência com excessivos encómios de Fenisa a<br />

fermosura, perdem os encarecimentos o nome para descreverem sua bizarria,<br />

para compararem seu <strong>do</strong>naire. Eu quero conceder que assim será em Módena<br />

e em Bolonha, mas não em to<strong>da</strong> Itália e em to<strong>da</strong> a Europa. A primeira flor que<br />

aparece ou no jardim brota<strong>da</strong>, ou no rosal nasci<strong>da</strong>, elevou os senti<strong>do</strong>s,<br />

senhoreou as esperanças nos desejos de admirá-la, lisonjeou a vista nos<br />

desvelos de vê-la. Parou na vista o desejo, terminou-se o cui<strong>da</strong><strong>do</strong>, parou a<br />

esperança no alvoroço e ficou sen<strong>do</strong> única no cui<strong>da</strong><strong>do</strong>. Porém como o ameno<br />

jardim ou o fecun<strong>do</strong> rosal produziu outras, perdeu a primeira a admiração por<br />

ter tantas parelhas na beleza. Ain<strong>da</strong> vossa excelência não viu Itália to<strong>da</strong>, nem<br />

<strong>da</strong> Europa a maior parte. Não se ocupou o subtil pincel <strong>da</strong> natureza só em<br />

debuxar uma flor, nem em matizar uma rosa. E se no mun<strong>do</strong> são mais as<br />

queixosas <strong>da</strong> fortuna que os que dela se mostram favoreci<strong>da</strong>s, bem se pode<br />

inferir que no mun<strong>do</strong> são as fermosas muitas, pois nele há tantas <strong>da</strong> fortuna<br />

queixosas.<br />

Não se persua<strong>da</strong> vossa excelência que só hoje em Bolonha se<br />

compendiou a beleza, se cifrou a bizarria, se epilogou a discrição, se terminou<br />

Senec, Epist. 60.

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