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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte VI 999<br />

igual, parecer que seguiu Quintiliano 1051 e o mostra a experiência. Logo não<br />

será maravilha que se vossa excelência menos sublime houvera nasci<strong>do</strong> que<br />

Fenisa o amara e por esposo o recebera, porque as semelhanças são<br />

conciliativas <strong>do</strong> amor, como diz Platão 1052 . Não vemos que a águia-real ame ao<br />

pavão pela vistosa fermosura <strong>da</strong>s penas, nem ao rouxinol pela suavi<strong>da</strong>de<br />

melodia de sua voz, o harmónico de seu canto, o agradável acento de sua<br />

música. A razão me parece que o serem tão desiguais nas naturezas e a águia<br />

tão altiva na estimação, que quer descrever os raios <strong>do</strong> sol no cristalino livro de<br />

seus olhos, entre tanta desigual<strong>da</strong>de nem a fermosura, nem a melodia mais<br />

sonora de nenhuma parte pode produzir afeição.<br />

Vossa excelência nasceu para príncipe e Fenisa para vassala; e suposto<br />

que seja tão ilustre no solar, tão singular na beleza e tão rica no <strong>do</strong>te e<br />

descrição, a fazem merece<strong>do</strong>ra de ser esposa de um titular e senhor de<br />

esta<strong>do</strong>, contu<strong>do</strong> não a habilitou a fortuna para ser nora de um príncipe<br />

soberano, sen<strong>do</strong> ela e seus pais por nascimento seus vassalos. Bem se mostra<br />

nisto o acredita<strong>do</strong> de seu entendimento e o aplaudi<strong>do</strong> de seu juízo, pois<br />

quan<strong>do</strong> ela conhecera que podia com segurança aspirar a essa grandeza,<br />

nunca ela a recusara, nem de esposo de tantas pren<strong>da</strong>s como se dão em<br />

vossa excelência se eximira, sen<strong>do</strong> natural desejo nas mulheres ilustres e tão<br />

<strong>do</strong>ta<strong>da</strong>s o aspirarem sempre a subirem a mais. Porém se o senhor duque tão<br />

mal havia de receber este casamento, contra seu gosto e sem sua licença<br />

executa<strong>do</strong>, e com to<strong>do</strong> o rigor mostran<strong>do</strong>-se ofendi<strong>do</strong>, os pais de Fenisa se<br />

veriam de seu senhorio para sempre desterra<strong>do</strong>s, sequestra<strong>da</strong>s as ren<strong>da</strong>s que<br />

nele possuem e de seu poder persegui<strong>do</strong>s em to<strong>da</strong> a parte; como havia de<br />

aceitar Fenisa uma felici<strong>da</strong>de que a seus pais e irmãos havia de custar tantas<br />

calami<strong>da</strong>des, perpétuos desgostos, incessáveis infortúnios e repeti<strong>do</strong>s<br />

pesares?<br />

Estes inconvenientes tão dignos de ponderar-se não os considera quem<br />

ama, que por isso se pintava o amor com os olhos ven<strong>da</strong><strong>do</strong>s, porque nem vê<br />

os despenhos, nem atende aos perigos, nem receia os discómo<strong>do</strong>s que seguir<br />

se podem. Como culpa vossa excelência a Fenisa de cruel porque o não ama,<br />

Quint., Decl. 8.<br />

Plat., De leg. Dial. 6.

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