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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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184 Padre Mateus Ribeiro<br />

sem remédio e meu tormento sem alívio, ouvi a trágica narração de minha<br />

história e avaliareis ain<strong>da</strong> por limita<strong>da</strong>s minhas tristezas.<br />

E assentan<strong>do</strong>-se comigo entre os sombrios álamos que de pavelhão<br />

serviam à espessura de um solitário bosque, arrancan<strong>do</strong> <strong>do</strong> peito um senti<strong>do</strong><br />

suspiro, prelúdio de seu trágico sentimento, disse desta sorte:<br />

- A ilustre vila de Madrid, breve mapa <strong>da</strong> maior parte <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, corte de<br />

tão agiganta<strong>da</strong> monarquia que recompila em grandezas de reinos e províncias<br />

as Babilónias <strong>do</strong>s assírios, as Persopolis <strong>do</strong>s persas, a quem a Macedónia de<br />

Grécia e a Roma de Itália no império <strong>do</strong>s Alexandres e Césares devem a<br />

representação de sua opulência hoje tão viva, quan<strong>do</strong> apenas de tantas<br />

monarquias já passa<strong>da</strong>s perseveram as sombras <strong>da</strong> majestade que como<br />

impérios tiveram, foi pátria de quem cronista de seus infortúnios refere, por<br />

contentar-vos, suas tristezas. Que importa ser ilustre a pátria a quem com suas<br />

obras a envilece? Ou que des<strong>do</strong>ura ser humilde a quem a engrandece com<br />

obras e com merecimentos a autoriza? Ao sábio Crates Tebano perguntou o<br />

grande Alexandre se queria que Tebas, sua pátria, em graça de tal filho de<br />

novo refizesse; ao que ele respondeu que era obra escusa<strong>da</strong> sequer para<br />

escusar o sentimento se a<strong>caso</strong> outro Alexandre de novo a arruinasse, como<br />

antes fizera.<br />

Por merecimentos de um tal filho queria o invicto monarca restaurar-lhe<br />

a pátria, e por culpas minhas confesso que foi desditosa a minha em ter tal<br />

filho, segun<strong>do</strong> de um pai titular e rico, me criou Madrid alguns anos, em que a<br />

tenra i<strong>da</strong>de as lisonjas <strong>da</strong> corte não entendia; porém chegan<strong>do</strong> a tempo de<br />

poder-me aplicar às letras, meu pai me man<strong>do</strong>u a Salamanca, ci<strong>da</strong>de não mui<br />

distante deste lugar em que agora estamos, a quem a fama <strong>da</strong> insigne<br />

universi<strong>da</strong>de que a enobrece faz conheci<strong>da</strong> em to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong> não menos que<br />

antigamente a Jónia em Ásia com Anaximandro, Atenas em Grécia com<br />

Aristóteles e Cortona em Itália com Pitágoras. Vivia nela um fi<strong>da</strong>lgo primo com<br />

irmão de meu pai, casa<strong>do</strong> havia anos, a quem vim dirigi<strong>do</strong> para que juntamente<br />

com seu filho continuasse as escolas <strong>do</strong> estu<strong>do</strong>; favor que ele estimou por<br />

grande, tratan<strong>do</strong>-me com o mesmo amor que se seu filho próprio fora. Assim<br />

em companhia <strong>do</strong> seu, que Dom Sancho se chamava, cursei os estu<strong>do</strong>s alguns<br />

anos em que, sen<strong>do</strong> bem instruí<strong>do</strong> nas humani<strong>da</strong>des <strong>do</strong>s livros históricos,<br />

passei à Filosofia com progressos que em as lisonjas de afeiçoa<strong>do</strong> ou primores

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