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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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910 Padre Mateus Ribeiro<br />

Concertaram entre si de fugirem <strong>da</strong> corte em traje desconheci<strong>do</strong> para Itália:<br />

perigosa ausência, sen<strong>do</strong> Eurides princesa, filha de um empera<strong>do</strong>r, <strong>da</strong><br />

fermosura espanto e de seu pai o amoroso desvelo; porém nas academias <strong>do</strong><br />

amor, raras vezes se tomam postilas de temer. Só nesta tão arrisca<strong>da</strong> fugi<strong>da</strong><br />

fizeram cúmplices confidentes para os acompanharem ele a um cria<strong>do</strong> de<br />

quem confiava muito e Eurides a uma aia de quem só seus segre<strong>do</strong>s fiava.<br />

Preparou Eurides para levar to<strong>da</strong>s as jóias mais preciosas que tinha, e em uma<br />

noite escura em que apenas as cintilantes estrelas se viam descobrir seus<br />

resplan<strong>do</strong>res, toman<strong>do</strong> Manfre<strong>do</strong> a Eurides nas ancas de um cavalo, que na<br />

ligeireza com desprezos de parecer raio presumia atributos de pensamento, e o<br />

fidelíssimo cria<strong>do</strong> nas ancas <strong>do</strong> seu cavalo a aia de Eurides, se ofereceram a<br />

confiar <strong>da</strong> ventura o sucesso ou felice ou infausto deste seu tão arrisca<strong>do</strong> e<br />

duvi<strong>do</strong>so retiro.<br />

Deixemos na consideração agora os sentimentos e mágoas que<br />

Constâncio sentiria, ven<strong>do</strong> desapareci<strong>da</strong> de seus olhos a uma filha dele com<br />

extremos ama<strong>da</strong>, a jóia mais estima<strong>da</strong> de seus desvelos, a glória temporal de<br />

seus senti<strong>do</strong>s, a delícia de seus olhos, corta<strong>da</strong> em flor sua esperança de a ver<br />

emprega<strong>da</strong> no monarca mais soberano. Deixemos as iras vingativas de tão<br />

insólito atrevimento, seu real decoro viola<strong>do</strong>, o paço ofendi<strong>do</strong>, a majestade<br />

lesa, despedin<strong>do</strong> por to<strong>da</strong>s as partes tropas de cavalaria ligeira que cortassem<br />

caminhos, atalhassem estra<strong>da</strong>s, subissem os montes mais eminentes, ain<strong>da</strong> o<br />

Olimpo mais inacessível, que à segun<strong>da</strong> região <strong>do</strong> ar presume avantajar-se na<br />

altiveza com que as nuvens despreza e os ventos não teme. Que<br />

investigassem aos vales mais profun<strong>do</strong>s, alunos <strong>do</strong> centro <strong>da</strong> terra de quem<br />

tomam lições de ocultar-se nas sombras mais escuras, sen<strong>do</strong> peregrinos à luz<br />

e émulos ao dia, a quem o sol apenas se atreve a mostrar com seus raios se<br />

são colonos ou não deste hemisfério. Deixemos <strong>da</strong> corte a confusa divisão de<br />

pareceres, a varie<strong>da</strong>de de opiniões, a diversi<strong>da</strong>de <strong>do</strong>s juízos, as invejas à<br />

ventura de Manfre<strong>do</strong>, que se de antes era ama<strong>do</strong>, agora por inveja<strong>do</strong> de to<strong>do</strong>s<br />

era aborreci<strong>do</strong>. To<strong>do</strong> o invejoso, diz Plínio Júnior 899 , é menor que o inveja<strong>do</strong>,<br />

porque, como escreve Salústio 900 , nasce a inveja <strong>da</strong> opulência maior que em<br />

Plin. Jun., Lib. 6.<br />

Salust., in Conjur. Catil.

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