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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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932 Padre Mateus Ribeiro<br />

se esse amor em deixar-me e não <strong>da</strong>r motivos a que línguas licenciosas<br />

censurem seus atrevimentos por minha causa; porque é tão senhoril minha<br />

vontade que nem há-de agradecer suas finezas, nem abrir brecha em meu<br />

peito nem seu poder, nem sua porfia; e é mais de louvar uma retira<strong>da</strong> prudente<br />

<strong>do</strong> que uma porfia infrutuosa.<br />

Com estas últimas palavras se quis despedir Fenisa com suas cria<strong>da</strong>s,<br />

porém Raimun<strong>do</strong> lhe replicou, dizen<strong>do</strong>:<br />

- Imaginas, Fenisa, com teu retiro deixares-me às escuras sem tua<br />

vista? Queres imitar os privilégios <strong>da</strong> aurora, a quem o espaço que dura a faz<br />

ser de to<strong>do</strong>s mais deseja<strong>da</strong>? Pois hás-de ouvir-me, ain<strong>da</strong> que mortifiques à<br />

vontade de ausentar-te o fim a que aspira meu amor, por que mereça crédito<br />

contigo meu generoso cui<strong>da</strong><strong>do</strong>. Eu, Fenisa, hei-de ser teu esposo e com este<br />

intento te amei desde o dia em que te vi. Foste para mim o mais queri<strong>do</strong><br />

desdém e a mais ama<strong>da</strong> esquivança; e sen<strong>do</strong> a ingratidão de si tão odiosa, foi<br />

tua ingratidão o maior incentivo de querer-te e teu desabrimento o maior motivo<br />

de amar-te. Mu<strong>da</strong>ste-te de Módena para fazeres meu amor mais firme; quem<br />

poderia conhecer que de tua mu<strong>da</strong>nça fosse meu querer mais confiante, sen<strong>do</strong><br />

uma mu<strong>da</strong>nça antípo<strong>da</strong> <strong>da</strong> maior firmeza? Por briosa nasceste para senhora,<br />

pelo singular <strong>da</strong> fermosura e pelo generoso de tua estimação quis <strong>do</strong>tar-te a<br />

natureza no que te negou a fortuna, sen<strong>do</strong> maior lauro para ti o conseguires<br />

por merecimento o que no nascimento não alcançaste. O duque pode casar a<br />

meu irmão a seu gosto, pois há-de ser seu sucessor, que eu só preten<strong>do</strong> casar<br />

ao meu casan<strong>do</strong> contigo, e julgarei ser o primeiro na ventura, sen<strong>do</strong> o segun<strong>do</strong><br />

no nascimento. Eu te peço, Fenisa, que dês notícia a teus pais desta minha<br />

honrosa resolução, pois ain<strong>da</strong> que o mun<strong>do</strong> to<strong>do</strong> contra mim se conjurasse ou<br />

hei-de perder a vi<strong>da</strong>, ou hás-de ser minha esposa.<br />

Não teve lugar Fenisa para responder à proposta de Raimun<strong>do</strong>, porque<br />

apareceu Frederico com seus filhos e cria<strong>do</strong>s que <strong>da</strong> caça vinham, com que<br />

Fenisa assusta<strong>da</strong> se retirou e Raimun<strong>do</strong>, montan<strong>do</strong> no cavalo que o cria<strong>do</strong> lhe<br />

tinha, se ausentou para o lugar em que os seus caça<strong>do</strong>res an<strong>da</strong>vam. Não<br />

deixou Frederico de ver e conhecer a Raimun<strong>do</strong>, ain<strong>da</strong> que de longe, quan<strong>do</strong><br />

falava com Fenisa; e chegan<strong>do</strong> à quinta em presença de sua mãe e irmãos lhe<br />

perguntou que prática fora a que com Raimun<strong>do</strong> tivera, que ela lhe referiu na

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