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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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626 Padre Mateus Ribeiro<br />

Assim falou o auditor. E man<strong>da</strong>n<strong>do</strong> a seus ministros me desmontassem<br />

<strong>do</strong> cavalo e despojassem <strong>da</strong>s armas, me lançaram umas algemas nas mãos e<br />

outras a Sílvio, meu cria<strong>do</strong>. E sem quererem ouvir as razões que eu dizia, nos<br />

levaram a Bolonha. Aonde entrámos já de noite, com tanto tumulto e estron<strong>do</strong><br />

<strong>da</strong> gente, como se houvéramos si<strong>do</strong> foragi<strong>do</strong>s ban<strong>do</strong>leiros, escân<strong>da</strong>lo <strong>da</strong>s<br />

montanhas e assombro <strong>do</strong>s caminhantes. Levou-nos o auditor à cadeia pública<br />

<strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de. Aonde toman<strong>do</strong>-me a confissão sobre o roubo de Aurora, pelo dito<br />

<strong>da</strong>s cria<strong>da</strong>s que em casa ficaram, eu neguei saber dela cousa alguma e só<br />

disse que nesse dia tinha parti<strong>do</strong> para Taranto, minha pátria, a ver minha mãe,<br />

que estava muito enferma, por aviso que meu pai me man<strong>da</strong>ra, e que <strong>do</strong><br />

caminho voltava a buscar uns papéis de importância, que com a pressa e susto<br />

na parti<strong>da</strong> em Bolonha me ficaram. O mesmo disse o meu cria<strong>do</strong>, por mais<br />

aperta<strong>da</strong>s perguntas que se lhe fizeram. Com que o auditor se despediu bem<br />

pensativo e confuso. Nesta noite se man<strong>da</strong>ram atalhar to<strong>da</strong>s as estra<strong>da</strong>s com<br />

tropas de cavalos e correr as aldeias e povoações de seu distrito, para ver se<br />

podiam descobrir notícias <strong>da</strong> fugi<strong>da</strong> de Aurora. Em cujo seguimento os<br />

deixaremos caminhar desvela<strong>do</strong>s e cui<strong>da</strong><strong>do</strong>sos, para tratar <strong>do</strong> que sucedeu a<br />

Aurora nesta fugi<strong>da</strong>.<br />

Cap. VII.<br />

Do que Aurora passou na noite de sua ausência<br />

Falan<strong>do</strong> Quintiliano 555 <strong>do</strong> cativeiro, diz que a sujeição violenta<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

liber<strong>da</strong>de não a deu a natureza, mas a fortuna. A maior pensão <strong>do</strong> cativeiro (diz<br />

o grande <strong>do</strong>utor S. Jerónimo 556 ) é o ficar sujeito ao querer e vontade de outro.<br />

E se esta só pensão é poderosa a ser motivo de excessiva pena, considerai,<br />

senhores, qual seria a minha, quan<strong>do</strong> tantas conspiravam para atormentar-me.<br />

Considerava-me de uma parte preso e com indecência trata<strong>do</strong>. E com ser este<br />

tão poderoso incentivo de desgosto, ficava a perder de vista seu rigor. Para o<br />

que me martirizavam o coração as memórias de Aurora, pois sen<strong>do</strong> esta<br />

Qui., Decl. 11.<br />

Hier., in Epist.

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