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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte IV 615<br />

morte, matan<strong>do</strong>-lhe milhares de sol<strong>da</strong><strong>do</strong>s, se <strong>caso</strong>u com sua filha para<br />

perpetuar a paz com os persianos, como ele mesmo disse na prática que fez<br />

aos persianos, como escreve Quinto Cúrcio.<br />

Pois se entre tantos monarcas e os maiores <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, ao fim de tantas<br />

mortes executa<strong>da</strong>s, tantos reinos perdi<strong>do</strong>s, tantas ci<strong>da</strong>des assola<strong>da</strong>s,<br />

derrama<strong>do</strong>s mares de sangue, em cujas purpúreas on<strong>da</strong>s navegou a vingança,<br />

largou to<strong>da</strong>s as velas o furor e naufragaram as vi<strong>da</strong>s, houve casamentos, para<br />

com eles se confirmar a paz e ser durável a concórdia; como vós só, senhora<br />

Aurora, quereis mostrar-vos tão única no sentir que pareçais inexorável no<br />

conceder? Não considerais que muitas vezes de não aceitar-se a paz ofereci<strong>da</strong><br />

se dá motivo a ser a guerra mais obstina<strong>da</strong>? Assim sucedeu a Totila, rei <strong>do</strong>s<br />

go<strong>do</strong>s: abrasou a ci<strong>da</strong>de de Roma com o Capitólio e lhe assolou quasi de to<strong>do</strong>s<br />

os muros, deixan<strong>do</strong> o espectáculo lamentável, indigna<strong>do</strong> e ressenti<strong>do</strong> de o<br />

empera<strong>do</strong>r Justiniano lhe não querer aceitar nem conceder a paz que lhe<br />

pedia. Converte-se em um furor muitas vezes um despreza<strong>do</strong> sofrimento, e o<br />

que foi humil<strong>da</strong>de <strong>do</strong> rogo <strong>da</strong> cortesia, vem pela pouca estimação a degenerar<br />

em vingança. Se o preso Júlio for degola<strong>do</strong> pela morte <strong>do</strong> senhor Aurélio, nem<br />

vosso pai, o senhor Octávio, ficará seguro, nem vossos parentes encastela<strong>do</strong>s<br />

<strong>do</strong>s arrojos e tumultos <strong>do</strong> furor vingativo, sen<strong>do</strong> Júlio o principal <strong>da</strong> família <strong>do</strong>s<br />

Galeazzos, que à vista de sua morte se podem incitar à hostili<strong>da</strong>des para to<strong>do</strong>s<br />

nocivas. Não basta a Bolonha, vossa pátria, haver padeci<strong>do</strong> tantas tormentas,<br />

que ain<strong>da</strong> lhe pretendeis ocasionar maiores incêndios em que se abrase? Não<br />

são bastantes tantas vinganças executa<strong>da</strong>s, tantas insolências cometi<strong>da</strong>s,<br />

tantas casas assola<strong>da</strong>s, tantos foragi<strong>do</strong>s criminosos? Senão que ain<strong>da</strong><br />

intenteis que se acabe de arruinar o pouco que ficou reserva<strong>do</strong> <strong>da</strong>s on<strong>da</strong>s<br />

tumultuosas <strong>do</strong> furor e privilegia<strong>do</strong> <strong>da</strong>s tempestades <strong>da</strong> ira? Se a isto vos move<br />

o sentimento excessivo que mostrais <strong>da</strong> morte <strong>do</strong> senhor Aurélio, vosso irmão,<br />

os mortos não solicitam vingança, antes por sem dúvi<strong>da</strong> julgo que, se nos fora<br />

possível consultar seu parecer nesta proposta em que estamos, <strong>da</strong>ria por bem<br />

emprega<strong>da</strong> sua morte, a fim de ver em sua pátria estabeleci<strong>da</strong> esta paz. É o<br />

bem universal de uma república o empenho próprio <strong>do</strong>s bem nasci<strong>do</strong>s, <strong>do</strong>s<br />

entendi<strong>do</strong>s e <strong>do</strong>s zelosos dela. Bem se viu no romano Marco Atílio Régulo, que<br />

estan<strong>do</strong> em Cartago cativo e sen<strong>do</strong> debaixo de palavra man<strong>da</strong><strong>do</strong> a Roma em<br />

companhia <strong>do</strong>s embaixa<strong>do</strong>res cartagineses, para persuadir ao sena<strong>do</strong> a fazer

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