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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte VI 997<br />

sinais de meu agravo; pois quanto mais dilata<strong>da</strong> tem si<strong>do</strong> no mar a bonança,<br />

diz Aristóteles 1046 , tanto mais vivinha se pode recear a tormenta.<br />

Assi impaciente se queixava Raimun<strong>do</strong> <strong>da</strong>s ingratidões de Fenisa e de<br />

se ver de seus pais desengana<strong>do</strong> <strong>do</strong> casamento que com tantos desvelos<br />

pretendia, mortas as esperanças em que seu desejo se alimentava e seu amor<br />

vivia, beben<strong>do</strong> a quinta essência <strong>do</strong>s pesares na desabri<strong>da</strong> taça de um<br />

desengano poderoso a converter em fel a to<strong>da</strong> a <strong>do</strong>çura. Assi brotava<br />

incêndios de ira <strong>do</strong> fogoso Etna que em seu peito ardia. Porém Justiniano,<br />

desejan<strong>do</strong> poder moderar a pena que o oprimia, suposto que a paixão o<br />

<strong>do</strong>minava tanto, sen<strong>do</strong> tão intenso o sentimento e tão presente a mágoa que<br />

não permitia confianças à locução para poder servir de desafogo à pena, sen<strong>do</strong><br />

empenho <strong>do</strong> ora<strong>do</strong>r, como disse Plutarco 1047 , medir o tempo e son<strong>da</strong>r a<br />

ocasião se é oportuna para poder persuadir; porque quan<strong>do</strong> <strong>do</strong>minam as<br />

paixões, mal atende o ouvinte aos lenitivos <strong>da</strong> voz, nem ao eloquente <strong>do</strong><br />

ora<strong>do</strong>r. Contu<strong>do</strong> Justiniano, pedin<strong>do</strong> a Raimun<strong>do</strong> licença para falar, e confia<strong>do</strong><br />

na razão, lhe disse assi:<br />

Cap. XII.<br />

Da resposta que Justiniano deu a Raimun<strong>do</strong> e <strong>do</strong> que dela resultou<br />

- Suposto, senhor, que o tempo de falar pareça ser impróprio para as<br />

ocasiões <strong>do</strong> sentir desgostos, a mi me parece que no mais rigoroso <strong>do</strong> sentir é<br />

o tempo mais oportuno de falar; porque depois de declinar a pena e abonançar<br />

a <strong>do</strong>r, já parece se escusa o falar, assi como depois de sarar a chaga ou a<br />

feri<strong>da</strong> são escusa<strong>do</strong>s os remédios dela, como diz Plutarco 1048 , porque quan<strong>do</strong><br />

a <strong>do</strong>r é mais onerosa e intolerável, então se deve aplicar o remédio mais eficaz.<br />

Nunca sem serem as partes ouvi<strong>da</strong>s pode parecer justa a sentença, como<br />

disse Platão 1049 e o Direito ensina. E como Fenisa e seus pais não são ouvi<strong>do</strong>s,<br />

1046 Arist., Eth. 8.<br />

1047 Plut., in Apoph.<br />

1048 Ubi Supra.<br />

1049 Plat., De Consul.

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