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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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416 Padre Mateus Ribeiro<br />

Módena, contentan<strong>do</strong>-se com as informações que dela lhe deram e dedican<strong>do</strong>-<br />

a em seu pensamento desde essa hora para esposa.<br />

Pedi eu a Constantino quisesse acompanhar-me na jorna<strong>da</strong>, a que ele<br />

se ofereceu alegremente, dizen<strong>do</strong>-me que se de antes como amigo me tinha<br />

dissuadi<strong>do</strong> o casamento de Amatilde por se ignorar sua quali<strong>da</strong>de, agora mo<br />

aconselhava e que dele não desistisse, pois minha feliz sorte a casa me<br />

trouxera to<strong>da</strong> a ventura que desejar podia. Avisaram-se a parentes nossos para<br />

nos acompanharem, e eu, com desculpas de convalescente recolhen<strong>do</strong>-me<br />

mais ce<strong>do</strong>, fui aonde Amatilde estava e lhe disse assim:<br />

- Bem sabes, discreta Amatilde, que não me empenhei a querer-te por<br />

riquezas, nem esta<strong>do</strong>s que possuísses, sen<strong>do</strong> como te imaginava lavra<strong>do</strong>ra,<br />

mas porque se pagou meu amor só <strong>do</strong> que por ti própria merecias; em minha<br />

eleição esteve amar tuas perfeições, não adivinhar tuas venturas; ofereci-me<br />

por teu esposo sen<strong>do</strong> quem sou, não reparan<strong>do</strong> em seres tu quem então eras.<br />

Bem manifestei quanto tive de desinteressa<strong>do</strong> em querer-te e quanto de fino<br />

em amar-te. A Deus provera que estiveras hoje no mesmo esta<strong>do</strong> em que<br />

meus olhos te viram: porque eu a ti te busquei porque tu só vales tu<strong>do</strong>. Os<br />

esta<strong>do</strong>s, favores são <strong>da</strong> fortuna, mas os merecimentos, <strong>do</strong>tes <strong>da</strong> natureza; e<br />

quem vive contente só com o que ama, não tem ambições <strong>do</strong>s logros <strong>do</strong> que<br />

em menos estima. Man<strong>da</strong>-te buscar a Módena sua alteza para como tutor <strong>da</strong>r-<br />

te <strong>da</strong> sua mão esta<strong>do</strong>: bem poderá casar-te com quem maiores esta<strong>do</strong>s<br />

possua, mas não com quem mais por amante te mereça. Tenho publica<strong>do</strong> que<br />

sou teu esposo, agora verei, Amatilde, o que vai para contigo meu amor, se<br />

porventura quan<strong>do</strong> eu te escolhi sen<strong>do</strong> humilde, tu me desprezas quan<strong>do</strong> te<br />

vês senhora.<br />

- Não passes adiante, Felizar<strong>do</strong> (respondeu Matilde), que os brios que<br />

comigo nasceram não os devo eu ao esta<strong>do</strong> que ain<strong>da</strong> não possuo. Para<br />

desempenhar-me <strong>do</strong> que te devo, posso afirmar que me pesa de nasceres tão<br />

ilustre, porque em confessar-me por tua esposa quan<strong>do</strong> foras menos, então me<br />

desempenhara mais. Se queres que por ti deixe o esta<strong>do</strong>, farei conta que ain<strong>da</strong><br />

sou lavra<strong>do</strong>ra, e pouco me custara a troco de ser tua esposa viver só como<br />

Amatilde e não como marquesa, porque em ter-te a ti logro tu<strong>do</strong> e sem ti tu<strong>do</strong> o<br />

mais estimo em na<strong>da</strong>. Está seguro que não só arriscan<strong>do</strong> os esta<strong>do</strong>s que meu<br />

pai me deixa, mas ain<strong>da</strong>, se necessário for, aventuran<strong>do</strong> a vi<strong>da</strong>, nem me

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