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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte IV 641<br />

Na alegre presença e confiança <strong>do</strong>s réus se descobre muitas vezes sua<br />

inocência. Assim sucedeu a Públio Cipião, que sen<strong>do</strong> em Roma cita<strong>do</strong> a juízo<br />

pelos tribunos <strong>do</strong> povo, acusan<strong>do</strong>-o que havia recebi<strong>do</strong> dinheiro d'el-rei<br />

Antíoco, quan<strong>do</strong> sen<strong>do</strong> cônsul lhe fazia guerra em Ásia, ele aparecen<strong>do</strong> no<br />

sena<strong>do</strong>, sem mu<strong>da</strong>r vesti<strong>do</strong>, como era costume <strong>do</strong>s réus, sem fazer cabe<strong>da</strong>l<br />

algum de seus acusa<strong>do</strong>res, orou confia<strong>do</strong> <strong>da</strong> glória que tinha adquiri<strong>do</strong> a Roma<br />

com suas vitórias e triunfos, que nem os tribunos tiveram ousadia de lhe propor<br />

acusações algumas, nem os sena<strong>do</strong>res fizeram mais que, admira<strong>do</strong>s de ouvi-<br />

lo, acompanhá-lo quan<strong>do</strong> <strong>do</strong> sena<strong>do</strong> saiu, pois na aprazível confiança mostrava<br />

carecer de culpa: assim refere Marco António Sabélico na guerra d'el-rei<br />

Antíoco.<br />

Pois se alegria <strong>do</strong> rosto é abono <strong>da</strong> inocência, como intentais com a<br />

tristeza <strong>do</strong> rosto fazerdes prova à culpa? E se outra culpa tiraniza vossa vi<strong>da</strong>,<br />

que granjeais com o ocultardes? Quan<strong>do</strong> a <strong>do</strong>r é incapaz de sofrer-se, também<br />

o é de encobrir-se. Pois (como diz Euripides) é padecer os males <strong>do</strong>bra<strong>do</strong>s, o<br />

violentar o sofrimento para encobri-los; porque não lhe permitir o desafogo é<br />

impossibilitá-lo <strong>do</strong> remédio. São as palavras (disse S. Gregório Papa)<br />

intérpretes <strong>da</strong> alma e embaixa<strong>do</strong>res de seus sentimentos; e assim não me<br />

parece certo que manifestan<strong>do</strong>-se em vosso rosto com tantos indícios e acenos<br />

a <strong>do</strong>r que vos senhoreia, intenteis fazê-la ca<strong>da</strong> vez maior com a condenar ao<br />

silêncio, para que careça de alívio o rigor <strong>da</strong> aflição.<br />

Assim falou Anacleto, e eu, já impaciente aos pesares que sofria, rompi<br />

o silêncio e abri as portas ao coração, para desafogar no queixoso a pena de<br />

magoa<strong>do</strong>. Referi-lhe to<strong>do</strong> o discurso de meus sucessos desde a primeira hora<br />

que vim estu<strong>da</strong>r a Bolonha, aonde vi a Aurora, até o esta<strong>do</strong> presente, e<br />

prossegui, dizen<strong>do</strong>:<br />

- Parece-vos, senhor Anacleto, que pode <strong>da</strong>r-se pena que possa<br />

emparelhar com meus pesares ou <strong>do</strong>r que chegue a igualar com minha<br />

mágoa? Na morte <strong>do</strong> cruel empera<strong>do</strong>r Calígula (contam Herodiano e Suetónio)<br />

se acharam nos seus escritórios (a) tantas diversi<strong>da</strong>des de venenos, que<br />

lança<strong>do</strong>s na corrente <strong>do</strong> rio Tibre, de tal sorte infeccionaram suas águas que<br />

causaram a Roma notável <strong>da</strong>no. Porém eu digo que ain<strong>da</strong> tantos venenos não<br />

(a) Conta<strong>do</strong>r com tampa por fora que cobre as gavetas; lugar onde se guar<strong>da</strong>m escrituras.

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