17.04.2013 Views

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte III 419<br />

que para quantos a viam era poderoso suborno <strong>da</strong>s vontades, desconfia<strong>do</strong> de<br />

alcançá-la por esposa conforme o duque era inteiro na justiça, intentou cometer<br />

a violência, o que não podia ter direito na razão.<br />

Cap. VIII.<br />

Do roubo violento de Amatilde e <strong>do</strong> que nisso passou<br />

Bem disse Cícero que estava tão ocasiona<strong>do</strong> a traições o mun<strong>do</strong> que<br />

era necessário a quem nele vive estar sempre em perpétua sentinela; <strong>do</strong>nde<br />

veio a dizer Tito Lívio 413 que maior perigo corria a vi<strong>da</strong> na perfídia <strong>do</strong>s<br />

companheiros que nos assaltos <strong>do</strong>s inimigos; porque <strong>do</strong>s primeiros mal se<br />

acautela a sinceri<strong>da</strong>de e <strong>do</strong>s segun<strong>do</strong>s bem se assegura a vigilância.<br />

Molesta<strong>do</strong> Júlio César de avisos ocultos que se lhe <strong>da</strong>vam, de traições que se<br />

lhe maquinavam, sem saber de quem devia assegurar-se, nem queren<strong>do</strong> já <strong>da</strong><br />

guar<strong>da</strong> que lhe assistia acompanhar-se, disse, como refere Suetónio, que<br />

antes queria cair de uma vez que temer tanto. Isto digo, porque mal pudera<br />

persuadir-me que Dom Cláudio, pessoa tão ilustre no sangue, que é de<br />

ordinário o maior abono <strong>do</strong> bom procedimento, vin<strong>do</strong> por ordem <strong>do</strong> duque para<br />

levar a Módena a Amatilde, o precipitasse tanto a inveja de me considerar em<br />

seus olhos mais aceito e o despenhar-se tanto o prodigioso <strong>da</strong> beleza, que<br />

cortan<strong>do</strong> pelos respeitos que ao duque e a si mesmo se devia, quisesse pôr à<br />

sua fama um labéu tão indecente ao lustre de seus progenitores.<br />

Há no caminho que seguíamos uma vila acastela<strong>da</strong>, bem povoa<strong>da</strong> de<br />

mora<strong>do</strong>res, que se chama Castel-Venesio, <strong>do</strong> senhorio <strong>da</strong> República de<br />

Veneza, que com estar em meio <strong>do</strong> duca<strong>do</strong> de Módena é, como digo, <strong>do</strong>s<br />

venezianos. Nesta vila tinha Dom Cláudio um grande amigo e poderoso em<br />

riquezas e vassalos, a quem avisou de sua i<strong>da</strong>, para que em sua casa lhe<br />

tivesse prepara<strong>do</strong> hospício e de secreto alguma gente arma<strong>da</strong> para o que ele<br />

em particular lhe declararia. Era Alberto, que assim se chamava, mancebo na<br />

i<strong>da</strong>de, destemi<strong>do</strong> no valor, arroja<strong>do</strong> nas ousadias, muito rico no esta<strong>do</strong> e<br />

413 Tit. Liv., Lib. 1. dec. 1.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!