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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte I 133<br />

preso para que manifestasse o lugar aonde el-rei estava; ele que ao estron<strong>do</strong> e<br />

rumor <strong>da</strong> prisão <strong>do</strong> pajem, com o sobressalto intimi<strong>da</strong><strong>do</strong>, saiu imaginan<strong>do</strong><br />

poder evitar o perigo, foi logo <strong>do</strong>s conjura<strong>do</strong>s preso e com as mangas <strong>da</strong><br />

própria camisa que vestia afoga<strong>do</strong>, juntamente com o pajem, antes que<br />

pudessem ser socorri<strong>do</strong>s.<br />

Este fim lamentável teve Henrique, rei de Escócia, tão malogra<strong>do</strong> na<br />

primavera mais flori<strong>da</strong> de seus anos, a quem fora melhor não haver subi<strong>do</strong> a tal<br />

grandeza, pois ela foi a ocasião de sua maior ruína. E quanto mais proveitoso<br />

lhe fora ser senhor de Arli e perseverar vivo que esposo <strong>da</strong> rainha de Escócia<br />

para ser tão cruelmente morto. Enquanto Henrique senhor de Arli de quasi<br />

to<strong>do</strong>s foi ama<strong>do</strong>, enquanto Henrique rei de Escócia foi inveja<strong>do</strong> e aborreci<strong>do</strong>.<br />

Pouca duração e breve perseverança tem (a) as digni<strong>da</strong>des e grandezas <strong>da</strong><br />

humana vi<strong>da</strong>: com perigos e temores se possuem, com grande facili<strong>da</strong>de e<br />

talvez com dispêndio <strong>da</strong> própria vi<strong>da</strong> se perdem. Bem experimentou Dâmocles<br />

seus temores, aquele grande amigo de Dionísio, tirano de Sicília, a quem para<br />

desenganar <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> que tanto louvava, e antes de a experimentar engrandecia,<br />

man<strong>do</strong>u o tirano assentar em cadeira de ouro, sobre tapeçarias mui ricas de<br />

que estava to<strong>da</strong> a sala paramenta<strong>da</strong>, fragrancian<strong>do</strong> suavi<strong>da</strong>des de aromas,<br />

caçoulas e perfumes o<strong>do</strong>ríferos; sen<strong>do</strong>-lhe juntamente ofereci<strong>do</strong>s na mesa os<br />

manjares mais delica<strong>do</strong>s, as iguarias mais saborosas, a quem faziam salva<br />

músicas aves que ao descante de acor<strong>da</strong><strong>do</strong>s instrumentos respondiam; porém<br />

de tal mo<strong>do</strong> em meio de tantas delícias o perturbou e inquietou a corta<strong>do</strong>ra<br />

espa<strong>da</strong> pendente de frágil fio que a sua vi<strong>da</strong> ameaçava que, como se fora raio<br />

que qual aborto de escura nuvem estivera para despenhar-se, lhe embargou<br />

to<strong>do</strong> o gosto e lhe impediu o logro de to<strong>da</strong>s as recreações que tinha presentes,<br />

obrigan<strong>do</strong>-o a julgar por penosas na reali<strong>da</strong>de as que de antes avaliava por tão<br />

felizes nas aparências. Lá disse discretamente o Séneca 178 que o mais firme e<br />

seguro presídio <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> <strong>do</strong>s príncipes era o amor <strong>do</strong>s vassalos. Sempre pela<br />

maior parte ao maior poder e mais soberano acompanharam os maiores<br />

(a ' Como foi referi<strong>do</strong> nos critérios de edição <strong>do</strong> texto, as formas <strong>da</strong> terceira pessoa <strong>do</strong> plural <strong>do</strong><br />

indicativo de verbos como ter, ver e vir, na época monossilábicas, são transcritas como a<br />

terceira pessoa <strong>do</strong> singular.<br />

178 Senec, De clement.

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