17.04.2013 Views

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

156 Padre Mateus Ribeiro<br />

para que fosse gozar <strong>da</strong> glória e ficasse ocasião ao pai para continuar na<br />

eficácia <strong>da</strong>s obras de cari<strong>da</strong>de, de que já se descui<strong>da</strong>va. Estes são os juízos<br />

de Deus em tu<strong>do</strong> justos e acerta<strong>do</strong>s que, a quem os ignora, parecer podiam<br />

desordens ou injustiças. Com isto desapareceu o anjo e ficou o ermitão fora <strong>da</strong><br />

tentação que o molestava e consola<strong>do</strong> nas aflições que sentia.<br />

Desta história podemos inferir algumas razões e conjecturas <strong>da</strong> causa<br />

porque Deus Senhor nosso permite que no mun<strong>do</strong> haja tantos viciosos<br />

favoreci<strong>do</strong>s e estima<strong>do</strong>s, e pelo contrário tantos virtuosos desestima<strong>do</strong>s e<br />

persegui<strong>do</strong>s; tantos sábios pobres e desvali<strong>do</strong>s; tantos descui<strong>da</strong><strong>do</strong>s venturosos<br />

e tantos cui<strong>da</strong><strong>do</strong>sos infelices em to<strong>do</strong>s os esta<strong>do</strong>s <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> humana, não por<br />

causa de estrelas ou planetas, em cujos aspectos benévolos ou adversos<br />

nacem, mas por ocultos juízos de sua eterna Providência, que com sabe<strong>do</strong>ria<br />

infinita assim o dispõe para os fins que nós não alcançamos, nem nesta mortal<br />

vi<strong>da</strong> os conhecemos. Quantas vezes não permite Deus Senhor nosso que os<br />

pobres cheguem a ser ricos por não arriscarem suas virtudes a arruinarem-se?<br />

Quantas vezes permite que os sábios e beneméritos não ocupem os postos,<br />

cargos e digni<strong>da</strong>des maiores, por não os pôr a perigo de se esvaecerem ou<br />

ensoberbecerem desconhecen<strong>do</strong>-se neles? Quantas vezes permite sua<br />

Providência que os justos sejam persegui<strong>do</strong>s para que juntamente a nós nos<br />

dêem exemplo de tolerância e constante sofrimento, e a si próprios aumentem<br />

a coroa de seus merecimentos? Quantas vezes leva para si aos mancebos na<br />

flor <strong>da</strong> i<strong>da</strong>de para assegurar-lhes a salvação que porventura em mais dilata<strong>da</strong><br />

vi<strong>da</strong> se arriscará? E quantas vezes sustenta os velhos em i<strong>da</strong>de já decrépita<br />

para esperar-lhes horas de arrependimento ver<strong>da</strong>deiro, que se antes os<br />

chamara se condenariam? A quantos perversos e desumanos consente<br />

possuírem riquezas e grandes esta<strong>do</strong>s, ou para mostrar o pouco <strong>caso</strong> e<br />

estimação que se deve fazer de semelhantes bens e prosperi<strong>da</strong>des, pois os<br />

concede de sujeitos deles à nossa vista tão pouco dignos, ou para lhes pagar<br />

nesta algumas boas obras naturais que fizeram, pois na outra vi<strong>da</strong> delas não<br />

hão-de receber prémio, antes o castigo que seus vícios e culpas merecem:<br />

como <strong>do</strong> rico avarento, diz o padre S. João Crisóstomo 214 , que lhe pagou Deus<br />

214 Super Luc. col. 1.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!