17.04.2013 Views

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

326 Padre Mateus Ribeiro<br />

é mais bela; sen<strong>do</strong> ca<strong>da</strong> qual tão vistosa e <strong>da</strong>n<strong>do</strong> tanto agra<strong>do</strong> à vista que com<br />

razão se lhe deu o título de Florença, pela beleza <strong>da</strong> flor a quem se parece.<br />

Man<strong>do</strong>u-nos o grão-duque receber à entra<strong>da</strong> <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de com alguns gentis-<br />

homens de sua casa que nos foram ao paço acompanhan<strong>do</strong> com grande<br />

cortesia. Subimos ao sumptuoso alcáçar, condigna habitação de tal príncipe:<br />

fomos beijar-lhe a mão e render as graças <strong>do</strong>s favores que nos fazia. Ele nos<br />

recebeu com mostras de sua benigni<strong>da</strong>de, desculpan<strong>do</strong>-se de nos haver<br />

man<strong>da</strong><strong>do</strong> vir à corte, com desejos de que Lucin<strong>da</strong> nela descansasse alguns<br />

dias <strong>da</strong>s moléstias <strong>do</strong> mar, e para saber mais por extenso este sucesso. Referi-<br />

Ihe eu recompila<strong>da</strong>mente a substância dele, de que admira<strong>do</strong>, pon<strong>do</strong> os olhos<br />

em Lucin<strong>da</strong>, disse:<br />

- Desculpas tem Juliano em seus erros, sen<strong>do</strong> tão superior a causa por<br />

quem se precipitou a cometê-los; e no próprio motivo se acrimina a ofensa e se<br />

conhece a causa.<br />

Man<strong>do</strong>u ao seu mor<strong>do</strong>mo mor que nos hospe<strong>da</strong>sse em sua casa, que<br />

era o conde Hipólito casa<strong>do</strong> com uma senhora espanhola, chama<strong>da</strong> Dona<br />

Jacinta, que nos recebeu com notável contentamento, pagan<strong>do</strong>-se tanto <strong>da</strong><br />

presença e juízo de Lucin<strong>da</strong> que nem um instante podia estar sem ela. Levou-a<br />

a ver consigo na carroça as grandezas <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de, que a to<strong>do</strong>s dão bem que<br />

admirar suas grandezas. Ca<strong>da</strong> dia nos man<strong>da</strong>va visitar o duque com tantos<br />

regalos <strong>da</strong> sua mesa, que a to<strong>do</strong>s nos tinha posto em confusão <strong>do</strong>nde podia<br />

nascer tão excessiva urbani<strong>da</strong>de, não haven<strong>do</strong> de antes nem amizade, nem<br />

preceden<strong>do</strong> serviços que meu pai lhe fizesse.<br />

Para ser amizade, <strong>da</strong>va-se desigual<strong>da</strong>de grande, qual era um príncipe<br />

tão grande e um fi<strong>da</strong>lgo particular. Pois, como diz Quinto Cúrcio, a amizade<br />

quer igual<strong>da</strong>de. Assim o tinha dito Aristóteles 325 e o ensina o padre São<br />

Jerónimo 326 . E assim para ser amizade era a desigual<strong>da</strong>de muita e o<br />

conhecimento pouco; porque meu pai nunca a Florença tinha vin<strong>do</strong>. Para ser<br />

prémio de serviços, nenhuns ao grão-duque tinha feito; e assim andávamos<br />

nesta perplexi<strong>da</strong>de, sem saber determinar a que tantos favores atendiam.<br />

Enfim esperávamos que o tempo nos mostrasse a saí<strong>da</strong> deste confuso labirinto<br />

Arist., Ethic. 8.<br />

D. Hieron., Sup. Matth.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!