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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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164 Padre Mateus Ribeiro<br />

sábio lhe disse que nenhum <strong>do</strong>s que ele por tais no mun<strong>do</strong> julgava; sen<strong>do</strong> de<br />

tão pouca duração as felici<strong>da</strong>des <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> que talvez <strong>do</strong> mais altivo <strong>da</strong>s honras e<br />

digni<strong>da</strong>des costumam despenhar quem nelas se fia ao centro mais humilde <strong>da</strong>s<br />

misérias: o que é permissão <strong>da</strong> Divina Providência para que os homens antes<br />

achem motivos de desenganos em sua inconstância, <strong>do</strong> que ocasião de se<br />

afeiçoarem de suas lisonjas. Não é justo se queixe quem as não alcança, pois<br />

não sabe se as possuirá para maior ruína. Disposições são <strong>da</strong> Divina<br />

Providência; e querer <strong>da</strong>r alcance a seus juízos, intentar compreender seus<br />

segre<strong>do</strong>s, é nece<strong>da</strong>de manifesta, será ignorância desconheci<strong>da</strong>; e calan<strong>do</strong>,<br />

disse o Peregrino:<br />

- Satisfeito me deixam, senhor, vossos prudentes discursos, <strong>da</strong>n<strong>do</strong><br />

alívio a meus sentimentos e consolação em parte a minhas tristezas, suposto<br />

que são elas tais que não sei como admitirão alívio. E quan<strong>do</strong> de minha<br />

peregrinação não colhera outro fruto mais que a luz destes desenganos que<br />

tanto tempo me trouxe inquieto e cui<strong>da</strong><strong>do</strong>so, era mais que bastante a ventura<br />

de encontrar-vos, o gosto que recebi com ouvir-vos, para julgar meus caminhos<br />

por felices e minha jorna<strong>da</strong> por venturosa, que não tem pouca ventura achar<br />

um sábio, pois Platão lhe deu título de venturosos.<br />

- Não mereço eu título tão honroso (respondeu o Ermitão) e ain<strong>da</strong> na<br />

antigui<strong>da</strong>de poucos foram os que tal título admitiram.<br />

Tales Milésio foi o primeiro a quem se deu o título de sábio. Depois<br />

houve alguns em Grécia a quem tal nome atribuíram, como Sólon, Chilon,<br />

Pítaco, Bias, Cleóbulo, Anacarsis, Epimenides e alguns outros que sábios se<br />

chamaram, e a nenhum destes faltaram suas ignorâncias.<br />

Não admitiu tal nome Pitágoras, antes se chamou filósofo, que significa<br />

não sábio absolutamente, mas amigo <strong>da</strong> sabe<strong>do</strong>ria, <strong>do</strong> qual, como escreve S.<br />

Agostinho, os filósofos se derivaram e dele procedeu a Filosofia itálica, assim<br />

como de Anaximandro a jónica, academias uma e outra tão célebres no<br />

mun<strong>do</strong>, e contu<strong>do</strong> não se isentaram de erros e descui<strong>do</strong>s, porque, como diz S.<br />

Bernar<strong>do</strong> 229 , somente aquele se pôde chamar sábio, que é virtuoso; que (como<br />

diz o grande padre S. Agostinho 230 ) sabe<strong>do</strong>ria sem obras é abuso; e à<br />

D. Bern., in Serm.<br />

D. Aug., De duodecim abus.

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