17.04.2013 Views

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

540 Padre Mateus Ribeiro<br />

Cap. XXIII.<br />

Em que Constantino refere a prática que teve com Justiniano e o que nisto<br />

mais sucedeu<br />

Senti<strong>do</strong> e com extremos magoa<strong>do</strong> deu fim Justiniano à relação de seus<br />

desgostos e princípio a algumas lágrimas que nos olhos violenta<strong>da</strong>s foram<br />

pie<strong>do</strong>sos abortos de sua <strong>do</strong>r, que quan<strong>do</strong> estas fazem resistência ao valor para<br />

se mostrarem, excessiva é a pena que as despede, pois não basta o pun<strong>do</strong>nor<br />

para detê-las. Participei <strong>da</strong> mágoa, que é uma <strong>do</strong>r nos peitos honra<strong>do</strong>s,<br />

contágio enterneci<strong>do</strong> que se pega. E mais quan<strong>do</strong> o ouvinte traz o coração tão<br />

magoa<strong>do</strong>, e assim lhe disse:<br />

- Com viver hoje, senhor Justiniano, tão desengana<strong>do</strong> meu desejo <strong>do</strong><br />

valimento <strong>do</strong>s príncipes <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, como <strong>do</strong>s sucessos de minha vi<strong>da</strong> tendes<br />

ouvi<strong>do</strong>, não me persuadin<strong>do</strong> [a] ambição a seguir roteiro tão incerto nos<br />

aplausos <strong>do</strong> mar proceloso <strong>da</strong> corte, afirmo-vos que me tem tão magoa<strong>do</strong><br />

vossa pena que, só a fim de poder aplacar o vivo <strong>do</strong> sentimento que mostrais,<br />

desejara ver-me na privança em que me vi, para com ela solicitar a vosso pai a<br />

liber<strong>da</strong>de e a vós o alívio. Mas pois hoje a fortuna a ambos nega o favor para<br />

ficarmos satisfeitos, eu nos desejos de servir-vos e vós no remanso <strong>do</strong>s<br />

cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s em que an<strong>da</strong>is flutuan<strong>do</strong> com os desejos, me parece justo advertir-<br />

vos que, para o fim <strong>da</strong> liber<strong>da</strong>de <strong>do</strong> preso que procurais, não parece que<br />

acertais os meios de consegui-la.<br />

Primeiramente, o estar preso, ain<strong>da</strong> que seja moléstia grande, não é o<br />

maior infortúnio, que muitos reis e senhores se viram presos e depois não só a<br />

liber<strong>da</strong>de, mas seu antigo esta<strong>do</strong>, e ain<strong>da</strong> com aumento, possuíram. O<br />

empera<strong>do</strong>r Justiniano foi preso por Leôncio, seu vassalo rebela<strong>do</strong>, e depois de<br />

preso foi desterra<strong>do</strong> para Chersona, prisioneiro com boa guar<strong>da</strong>. Donde<br />

fugin<strong>do</strong> tornou a ser restituí<strong>do</strong> a seu império e man<strong>do</strong>u justiçar a Leôncio e aos<br />

que na rebelião o seguiram. O conde Fernão Gonçalves foi preso por man<strong>da</strong><strong>do</strong><br />

d'el-rei D. Garcia de Navarra em aperta<strong>da</strong> prisão e depois viu-se solto e conde<br />

absoluto de Castela e progenitor <strong>do</strong>s reis de Espanha. Francisco, rei de<br />

França, foi venci<strong>do</strong> e preso no assalto de Pavia pelo exército imperial de Carlos

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!