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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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380 Padre Mateus Ribeiro<br />

por essa causa chamaria Euripides ao esquecimento <strong>do</strong>s males remédio<br />

apeteci<strong>do</strong> <strong>do</strong>s descontentes, pois como esquecimento se cura o de que a<br />

natureza <strong>do</strong>s sentimentos desconfia.<br />

São os ares <strong>do</strong> esquecimento sempre salutíferos para convalecer de<br />

achaques <strong>do</strong>s agravos: to<strong>do</strong>s os ofendi<strong>do</strong>s, diz Cícero 375 , enfermam de<br />

sentimento; e assim como nos delírios frenéticos o remédio mais eficaz é o<br />

sono, assim na enfermi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s ofensas o remédio mais poderoso disse<br />

discretamente Públio Mimo 376 que era o olvi<strong>do</strong>. Ven<strong>do</strong>-se pois Dionísio na<br />

tranquili<strong>da</strong>de presente, sem já o inquietarem os desejos <strong>da</strong> vingança que, como<br />

rios arrebata<strong>do</strong>s que <strong>da</strong> ira nasciam, no mar lastimoso <strong>da</strong>s mortes de seus<br />

ofensores pararam, passava uma vi<strong>da</strong> inquieta por desengana<strong>da</strong> e pacífica por<br />

diverti<strong>da</strong>, que são os <strong>do</strong>us pólos que pode ter a mortal vi<strong>da</strong> para nem a<br />

desviarem ambições de pertendente, nem a molestarem sentimentos de<br />

ofendi<strong>do</strong>. São estes <strong>do</strong>us motivos inimigos declara<strong>do</strong>s <strong>do</strong> descanso, não<br />

conceden<strong>do</strong> ao ambicioso paz seus inquietos desejos, nem permitin<strong>do</strong> ao<br />

agrava<strong>do</strong> tréguas a molesta memória de sua apeteci<strong>da</strong> vingança: sempre foi a<br />

ambição, como lhe chamou Aristóteles, a causa <strong>da</strong>s divisões, tumultos e<br />

inquietações <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>des, como se viu antigamente em Atenas, Roma e<br />

Cartago, e quasi em nossos tempos em Génova, Sena, Florença e outras<br />

muitas em que o desejo de <strong>do</strong>minar brotou tantas parciali<strong>da</strong>des e ban<strong>do</strong>s,<br />

custan<strong>do</strong> tantas vi<strong>da</strong>s e derraman<strong>do</strong> tantos rios de sangue um desejo de mais<br />

luzir e uma pertensão de mais valer.<br />

Pergunta<strong>do</strong> Júlio César por seus companheiros em um lugar pequeno e<br />

tosco, situa<strong>do</strong> entre as fragosas serranias <strong>do</strong>s montes Alpes, desabriga<strong>do</strong> ao<br />

rigor <strong>do</strong>s ventos e exposto à inclemência <strong>da</strong>s neves, se entre os poucos e<br />

grosseiros mora<strong>do</strong>res de tão rústica habitação poderia <strong>da</strong>r-se ambiciosa<br />

competência de primazias, respondeu César que antes elegera ser ele o<br />

primeiro em tão pobre lugar <strong>do</strong> que ser o segun<strong>do</strong> na política grandeza e<br />

opulência de Roma. Costumava dizer o insigne capitão <strong>do</strong>s atenienses,<br />

Temístocles, que a glória militar que o vitorioso general Melcíades tinha<br />

Euripid., in Orest.<br />

Cicer., Pro Flacc.<br />

Publ. Mim., DeAmicit.

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