17.04.2013 Views

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

66 A novela portuguesa no século XVII:<br />

Não obstante esta insistente afirmação <strong>da</strong> função didáctica de que a sua<br />

obra se reveste, "não faltam censores presumi<strong>do</strong>s de austeros que condenem<br />

a um Eclesiástico compor Novelas."" 9 A escritas novelas, ain<strong>da</strong> que estas<br />

possam aproveitar aos leitores que imitem as virtudes e desaprovem os erros<br />

cometi<strong>do</strong>s pelos protagonistas <strong>da</strong>s diversas narrativas, não livrou Mateus<br />

Ribeiro <strong>da</strong> censura <strong>da</strong>queles que reprovam a escrita de ficção a partir de temas<br />

profanos por um religioso. A este propósito, atente-se na apreciação feita por<br />

Barbosa Macha<strong>do</strong> a este pároco, consideran<strong>do</strong>-o "versa<strong>do</strong> em varia erudição,<br />

que pudera utilmente empregar, compon<strong>do</strong> mais para divertimento de ociosos,<br />

que instrução de saloios" 120 .<br />

Daí que o autor <strong>do</strong> prólogo <strong>da</strong> edição de 1734 tenha senti<strong>do</strong><br />

necessi<strong>da</strong>de de fazer uma "breve defensa para os que censuram as suas<br />

obras, mostran<strong>do</strong> que muitos Eclesiásticos se empregaram neste honesto<br />

divertimento". Para legitimar a escrita de novelas de entretenimento, enumera<br />

exemplos de eclesiásticos que se ocuparam de matérias profanas, indican<strong>do</strong><br />

Helio<strong>do</strong>ro, Bispo de Trica, autor de As Etiópicas ou Teagenes e Cariclea,<br />

"modelo que as Histórias fabulosas deste género depois imitaram"^ 21 , Nónio, ou<br />

Nonnus Panopolitanus, que escreveu o poema Dionisíaca, ou ain<strong>da</strong> autores<br />

mais recentes como D. Pedro Calderón, D. Antonio de Solís e D. Agustín<br />

Moreto, referencia<strong>do</strong>s pelas suas comédias, finalizan<strong>do</strong> com a referência uma<br />

a Fénelon, insigne autor <strong>da</strong>s Aventuras de Telémaco.<br />

Para assegurar a legitimi<strong>da</strong>de desta ficção romanesca, o autor <strong>do</strong><br />

prólogo fun<strong>da</strong>menta-se ain<strong>da</strong> na teorização proposta por Pierre-Daniel Huet no<br />

Lettre-traité sur l'origine des romans (1670): "O eruditíssimo Pedro Daniel Huet,<br />

Bispo de Abranches e segun<strong>do</strong> Mestre <strong>do</strong> Delfim escreveu em Latim e em<br />

Francês um <strong>do</strong>utíssimo Trata<strong>do</strong> <strong>da</strong> origem e bom uso <strong>da</strong>s Novelas, e quan<strong>do</strong><br />

estas são como devem ser exemplares pouco importa que um Eclesiástico<br />

debaixo de uma ficção engenhosa mostre o prémio e estimação <strong>da</strong> virtude, o<br />

Mateus RIBEIRO, "Prólogo", Alivio de tristes e consolação de queixosos, Tomo I, Lisboa, na<br />

Oficina Ferreiriana, 1734.<br />

120 Diogo Barbosa MACHADO, Bibliotheca Lusitana, ed. cit., p.450.<br />

121 Mateus RIBEIRO, "Prólogo", Alivio de tristes e consolação de queixosos, Tomo I, Lisboa, na<br />

Oficina Ferreiriana, 1734.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!