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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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810 Padre Mateus Ribeiro<br />

Cap. X.<br />

Da prática que Cláudio teve com Roberto e determinação que sobre Lívia se<br />

tomou<br />

- Se, como diz Aristóteles 716 , os objectos <strong>do</strong>s conselhos são os meios e<br />

não os fins, porque o discurso humano bem pode eleger os meios, mas não<br />

assegurar os fins, não sei, senhor Roberto, como possa aconselhar-vos em um<br />

negócio que de si é incapaz de conselho. Reprovou o Séneca 717 como discreto<br />

a quem pedia o conselho depois de com a espa<strong>da</strong> entrar no desafio, quan<strong>do</strong> a<br />

ocasião <strong>do</strong> conflito não dá esferas à consulta. Assi diz Cícero 718 que nas<br />

cousas de grande importância hão-de preceder os conselhos maduros aos<br />

sucessos contingentes. É, amigo Roberto, o presente em que me consultais tão<br />

árduo para o conselho e tão intempestivo para o remédio que não alcanço<br />

mo<strong>do</strong> com que possa repreender o obra<strong>do</strong>, nem remediar o futuro. São os<br />

ciúmes umas desconfianças mal fun<strong>da</strong><strong>da</strong>s, uns escrúpulos <strong>da</strong> honra aparentes,<br />

que parecem ver<strong>da</strong>des sen<strong>do</strong> ilusões, e que sen<strong>do</strong> imaginações, veste a ira em<br />

trajes de ofensas. As on<strong>da</strong>s <strong>do</strong> mar nunca tem luzimento de dia, e quan<strong>do</strong> a<br />

noite mais escura se mostra, então com seu movimento resplandecem,<br />

parecen<strong>do</strong> pérolas que brilham as pingas que os remos com seu corte<br />

despedem. A razão é porque de dia a luz <strong>do</strong> sol lhes impede o luzimento e a<br />

noite com o escuro de seu manto lhes franqueia a confiança para<br />

representarem o que não são e para fingirem o que não tem de natureza. Tais<br />

são os ciúmes que parecem agravos enquanto a maior luz <strong>da</strong> ver<strong>da</strong>de os não<br />

convence de enganos.<br />

Vós, senhor Roberto, deixastes-vos levar <strong>da</strong>s aparências e não <strong>da</strong><br />

ver<strong>da</strong>de, condenan<strong>do</strong> à morte com fracos fun<strong>da</strong>mentos a vossa esposa:<br />

rigorosa sentença para quem estava inocente, desumana resolução para quem<br />

não estava culpa<strong>da</strong>. É a morte violenta o maior <strong>do</strong>s castigos e requer tão<br />

severa punição uma culpa mui cabalmente prova<strong>da</strong>, e mais, como disse<br />

" Ar., Ret 2.<br />

7 Sen., Ep. 22.<br />

8 Cie, 1. De Or.

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