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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte II 279<br />

defensa de sua honra se mostrou generosa vingativa. Rompeu a fama ao outro<br />

dia a morte <strong>do</strong> conde juntamente com a causa e, como a insolência de Roberto<br />

era de to<strong>do</strong>s geralmente aborreci<strong>da</strong>, to<strong>do</strong>s em geral ao conde culpavam e com<br />

encómios a minha irmã engrandeciam. É o povo, como disse Quintiliano, fácil<br />

de persuadir e como a razão estava tão manifesta, como o desaforo <strong>do</strong> rapto<br />

público, aprovaram to<strong>do</strong>s por generoso o castigo. Acudiu a justiça a devassar a<br />

morte, mas como constava <strong>da</strong> ofensa, ficou suspenso o rigor e tíbio o zelo; que<br />

uma razão manifesta é pedra de estancar queixas e de suspender iras.<br />

Retirou-se Claudiana a um convento por via desta senhora em cuja casa<br />

estávamos e a quem meus pais, por temor <strong>do</strong>s parentes <strong>do</strong> conde morto,<br />

ficaram encomen<strong>da</strong><strong>do</strong>s para aí assistirem; e eu não queren<strong>do</strong> já de Nápoles<br />

residências, assim pela moléstia que sentia, como recean<strong>do</strong> <strong>do</strong>s parentes <strong>do</strong><br />

conde, que eram poderosos, alguma vingança, não queren<strong>do</strong> seguir as letras<br />

por ver se me favorecia mais a ventura pelas armas, me parti a Flandres, <strong>da</strong>í a<br />

Alemanha e assentei praça de sol<strong>da</strong><strong>do</strong> no exército <strong>do</strong> empera<strong>do</strong>r Carlos<br />

Quinto, no tempo de suas militares empresas e gloriosos triunfos. Achei-me<br />

nas guerras de Saxónia contra o rebelde duque, lançámos ponte ao rio Albis<br />

em seguimento <strong>do</strong>s saxones que se iam retiran<strong>do</strong>, demos-lhe batalha e sen<strong>do</strong><br />

o duque feri<strong>do</strong> a minha companhia se avançou a ele com tal valor que o<br />

fizemos prisioneiro, sen<strong>do</strong> trazi<strong>do</strong> à presença <strong>do</strong> empera<strong>do</strong>r pelo conde Hipólito<br />

<strong>do</strong> <strong>Porto</strong>, ilustre vicentino em cuja companhia eu an<strong>da</strong>va. Fizeram-me alferes,<br />

continuei a milícias, achei-me no sítio de Metz, ci<strong>da</strong>de posta na província de<br />

Lorena quan<strong>do</strong> por demasia<strong>da</strong> confiança de quem a governava se entregou a<br />

el-rei de França, sobre a qual voltan<strong>do</strong> o empera<strong>do</strong>r com poderoso exército, de<br />

que era tenente-general o duque de Alva; e empenhei-me tanto nos conflitos<br />

militares, aventuran<strong>do</strong> a vi<strong>da</strong> com os estímulos de granjear honra, que mereci<br />

sem valimento de quem me apadrinhasse mais que meus serviços ser capitão<br />

de cavalos no exército <strong>do</strong> César, com nome de destemi<strong>do</strong> e valeroso sol<strong>da</strong><strong>do</strong>;<br />

o que mostrei em muitas ocasiões em que me pôs a fortuna em discurso de<br />

dez anos.<br />

De lá socorria a meus pais com o que podia granjear de meus<br />

ordena<strong>do</strong>s e presas e mandei <strong>do</strong>te para professar minha irmã, Claudiana,<br />

como fez no convento aonde se havia retira<strong>do</strong>; e desejan<strong>do</strong> vê-la e a meus<br />

pais que havia tanto tempo deixara, me parti a Nápoles honra<strong>do</strong> com a

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