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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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742 Padre Mateus Ribeiro<br />

Um dia, nas despedi<strong>da</strong>s de Abril e vizinhanças de Maio, academia em<br />

que flora abria as portas ao estu<strong>do</strong> <strong>da</strong>s flores que tinha cerra<strong>do</strong> Dezembro com<br />

fechaduras de neve, quan<strong>do</strong> as árvores pareciam ramalhetes pelo flori<strong>do</strong> e<br />

outras verdes pavelhões pelo fron<strong>do</strong>so, quan<strong>do</strong> os músicos rouxinóis em<br />

competências de harmonia com o suave <strong>da</strong>s vozes serviam de alívio aos<br />

caminhantes com o divertimento de seu canto, muito agradável para ser<br />

queixoso, muito senti<strong>do</strong> para tão aceito; estavam Felisberto e Dionísio<br />

assenta<strong>do</strong>s junto a uma fonte que <strong>da</strong> ermi<strong>da</strong> pouco distante corria, assenta<strong>do</strong>s<br />

sobre a verde relva, a quem a vistosa infância <strong>do</strong> ano matizava de diversas<br />

boninas. A delícia <strong>do</strong> tempo, a vista <strong>do</strong> cristal, a melodia <strong>da</strong>s aves, o ameno <strong>do</strong><br />

pra<strong>do</strong>, jardim sem muros que o guar<strong>da</strong>ssem, vergel sem guar<strong>da</strong>s que o<br />

defendessem, retrato natural <strong>do</strong>s Elíseos, campos tão celebra<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s poetas,<br />

fazia a assistência tão jocun<strong>da</strong> e a conversação tão sazona<strong>da</strong> ao desejo que<br />

não trocara algum deles pelas maiores riquezas a voluntária pobreza em que<br />

viviam. Não há pobreza, diz Plutarco 621 , tão extrema<strong>da</strong> no padecimento a quem<br />

falte a suficiência para sustentar a vi<strong>da</strong>. E o Séneca 622 tem por riqueza a<br />

pobreza passa<strong>da</strong> com alegria. Não era a <strong>do</strong>s nossos ermitães tão excessiva<br />

que lhes faltasse o sustento, porque a cari<strong>da</strong>de <strong>do</strong>s lavra<strong>do</strong>res <strong>do</strong>s vizinhos<br />

lugares com abundância os provia e a fonte cau<strong>da</strong>losa em seu transparente e<br />

fugitivo cristal to<strong>do</strong> o ano e em to<strong>do</strong> o tempo lhes administrava a bebi<strong>da</strong>, com<br />

que passavam a vi<strong>da</strong> sem moléstia, antes com alegria.<br />

Culminante se mostrava o sol no hemisfério, subin<strong>do</strong> para descer, como<br />

to<strong>da</strong>s as grandezas <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> montam para baixarem, recebem o louro para o<br />

despojo e a eminência para o humilde, quan<strong>do</strong> viram que pela estra<strong>da</strong> que à<br />

ermi<strong>da</strong> se dirigia vinha um cavaleiro, que chegan<strong>do</strong> junto aonde estavam,<br />

desmontou <strong>do</strong> cavalo, sau<strong>da</strong>n<strong>do</strong>-os cortesmente, sen<strong>do</strong> com igual cortesia e<br />

urbani<strong>da</strong>de respondi<strong>do</strong>. Despojou o cavalo <strong>da</strong> moléstia <strong>do</strong> freio para pascer na<br />

relva, porque vinha cansa<strong>do</strong> <strong>da</strong> jorna<strong>da</strong> e ia o sol reforçan<strong>do</strong> a valentia <strong>do</strong>s<br />

raios. E convi<strong>da</strong><strong>do</strong> o passageiro de Felisberto para que viesse lograr o refúgio<br />

<strong>da</strong> fonte contra o rigoroso calor que ameaçava o dia, ele aceitou a oferta,<br />

assentan<strong>do</strong>-se com os ermitães ao sombrio <strong>da</strong>s árvores que à fonte de verde<br />

Plut., Decupi. divit.<br />

Senec, Ep. 2.

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