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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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262 Padre Mateus Ribeiro<br />

rebate seus temores, e apenas tomámos com a breve comi<strong>da</strong> algum alento,<br />

quan<strong>do</strong> tratámos de prosseguir o caminho, levan<strong>do</strong> o capitão nas ancas <strong>do</strong><br />

cavalo a sua filha Eugenia, por parecer mais decente a companhia de seu pai<br />

enquanto não havia comodi<strong>da</strong>de de poder receber-se com seu esposo.<br />

Caminhámos com a pressa possível o que restava <strong>do</strong> dia, não saben<strong>do</strong><br />

a hora em que avistássemos as raias <strong>do</strong> reino para podermos descansar com<br />

mais seguro abrigo, té que entran<strong>do</strong> a noite mais escura <strong>do</strong> costuma<strong>do</strong>, porque<br />

fechou as estrelas com as portas de um nubla<strong>do</strong> triste, presságio de algum<br />

sucesso infelice, apenas víamos a estra<strong>da</strong> que levávamos; tais eram as trevas<br />

de que o ar se mostrava vesti<strong>do</strong>. Mal se descobriam as eminências <strong>do</strong>s<br />

montes, que o escuro lhes tinha rouba<strong>do</strong> a grandeza e superiori<strong>da</strong>de com que<br />

<strong>do</strong>minavam aos vales humildes; e para ser maior a confusão, cerrou-se uma<br />

névoa tão densa que ain<strong>da</strong> os próprios <strong>da</strong> companhia mal nos divisávamos.<br />

Com tantas faltas de luz e tantos assombros <strong>da</strong> noite erraram as guias o<br />

caminho, e quan<strong>do</strong> nos parecia termos an<strong>da</strong><strong>do</strong> boa parte dele, nos achámos<br />

embosca<strong>do</strong>s entre uns montes penhascosos e com arvore<strong>do</strong> tão espesso,<br />

matos tão fecha<strong>do</strong>s, que parecia impossível passar adiante, nem ain<strong>da</strong> voltar<br />

atrás o caminho para sairmos deste natural labirinto em que como presos<br />

estávamos.<br />

Foi força<strong>do</strong> o parar, porque não se via a estra<strong>da</strong> nem caminho que<br />

seguir e assim, apean<strong>do</strong>-nos <strong>do</strong>s cavalos, nos resolvemos a esperar que a<br />

névoa adelgaçasse e a noite com a saí<strong>da</strong> <strong>da</strong> lua, que em tão poucas horas<br />

antes de amanhecer nascia, nos mostrasse em que mo<strong>do</strong> pudéssemos romper<br />

os laços com que o funesto luto <strong>da</strong> noite cerca<strong>do</strong> nos tinha: fizemos abrigo <strong>da</strong>s<br />

copa<strong>da</strong>s árvores que tecen<strong>do</strong> seus ramos fabricavam verdes telha<strong>do</strong>s a móveis<br />

edifícios, se bem então se conheciam mais pelo tacto que pela vista; e,<br />

assenta<strong>do</strong>s no tosco mato de que a terra se vestia, disse Alexandre desta<br />

sorte:<br />

Cap. X.<br />

Da prática que teve Alexandre com seus companheiros e como foram neste<br />

sítio assalta<strong>do</strong>s de ban<strong>do</strong>leiros

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