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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte V 825<br />

havia de persegui-lo. Porém quis o rei que a título de maior favor prevalecesse<br />

seu gosto, e levan<strong>do</strong> ocultamente a Giges ao leito em que sua esposa, com<br />

disfarces <strong>do</strong> sono, acor<strong>da</strong><strong>da</strong> estava, quis fazer patentes a seu vali<strong>do</strong> os<br />

neva<strong>do</strong>s can<strong>do</strong>res que de dia a riqueza <strong>da</strong>s galas encobria e de noite a<br />

holan<strong>da</strong> e bor<strong>da</strong><strong>do</strong>s cobertores ocultavam.<br />

Tem a amizade suas raias de que não é lícito passar, tem seus termos<br />

de que não é prudência exceder, disse Aulo Gélio 744 . Nem ao amigo se hão-de<br />

manifestar os defeitos próprios, porque é regra que se exceptua <strong>do</strong>s privilégios<br />

<strong>da</strong> amizade, nem se hão-de revelar as cousas que vem a redun<strong>da</strong>r em<br />

descrédito de quem incauto vulgariza a seu amigo, o que depois há-de resultar<br />

em seu próprio abatimento. Nem se há-de confiar segre<strong>do</strong> de cousa que depois<br />

se cause o pesar irreparável de a ter comunica<strong>do</strong>, nem fazer pública<br />

demonstração <strong>do</strong> que se produza desaire à estimação e vilipêndio ao<br />

respeitoso. A razão dá Valério Máximo 745 : porque poden<strong>do</strong> suceder que se<br />

rompa o vínculo <strong>da</strong> amizade com as mu<strong>da</strong>nças <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, nem <strong>do</strong> segre<strong>do</strong> que<br />

de teu defeito descobriste fique sen<strong>do</strong> árbitro teu inimigo para manifestá-lo,<br />

nem <strong>da</strong> indiscreta confiança que dele em teu desluzimento fizeste fique tua<br />

estimação sujeita ao movimento violento de sua vontade. Deve-se pressupor<br />

que a maior amizade pode converter-se em aborrecimento, e assi se exceptua<br />

de suas regras, ain<strong>da</strong> no mais fervoroso <strong>da</strong> recíproca correspondência e<br />

benévola união, o que pode ser detrimento ao decoro e ruína caluniante à<br />

estimação.<br />

Ressentiu-se a rainha como quem estava acor<strong>da</strong><strong>da</strong> (posto que com<br />

simulações de a<strong>do</strong>rmeci<strong>da</strong>) <strong>da</strong> demente indicação que o mal aconselha<strong>do</strong> rei<br />

dela a seu vali<strong>do</strong> fizera; julgou ao rei por homem de pouco juízo e por incapaz<br />

<strong>da</strong> coroa. Era poderosa e rica, e, como diz Juvenal 746 , mulher poderosa e<br />

ofendi<strong>da</strong>, quem podia duvi<strong>da</strong>r de que havia de vingar-se, pois podia fazê-lo?<br />

Chamou em ausência <strong>do</strong> rei à sua presença a Giges, e fican<strong>do</strong> só com ele, lhe<br />

falou desta sorte:<br />

Aul. Gel., Lib. 2.<br />

Val. Maxim., Lib. 7.<br />

Juv., Sat. 6.

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