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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte VI 1061<br />

quinta à instância de Carlos e, com desejos de ver-vos, me despedi. Estimara,<br />

amigo Lisar<strong>do</strong>, que as novas que vos trago igualassem a meu desejo, para que<br />

com ela recebêsseis muita alegria; porém, porque estaríeis esperan<strong>do</strong> a vin<strong>da</strong><br />

de Frederico, como com ele ajusta<strong>do</strong> ficava, e sem se prevenir esta repentina<br />

mu<strong>da</strong>nça, vim a <strong>da</strong>r-vos inteira relação <strong>do</strong> sucedi<strong>do</strong>, para que com vossa<br />

prudência discurseis, no esta<strong>do</strong> em que as cousas ao presente se mostram, o<br />

que vos convém seguirdes, estan<strong>do</strong> certo que hei-de assistir-vos como amigo<br />

que to<strong>do</strong> o bem vos deseja.<br />

Cap. XX.<br />

De como Lisar<strong>do</strong> se partiu com seus amigos para a quinta de Frederico e <strong>do</strong><br />

que nela passou<br />

Com a infausta narração de Roberto, fiquei tão senti<strong>do</strong> em considerar os<br />

disfavores e encontros de minha fortuna no mais alegre de minhas esperanças,<br />

no mais flori<strong>do</strong> de meus desejos, tão mal remunera<strong>do</strong>s os serviços, tão<br />

esqueci<strong>do</strong>s os riscos, tão desvali<strong>do</strong>s os perigos em que por Fenisa me tinha<br />

visto e finalmente tão derrota<strong>da</strong>s as navegações infelices de meus desvelos,<br />

que oprimi<strong>do</strong> meu coração <strong>do</strong> oneroso gravame de tão duplica<strong>do</strong>s pesares, mal<br />

podia respirar de senti<strong>do</strong>, quanto mais responder de ansia<strong>do</strong>. Emudeceu-me a<br />

voz o assalto <strong>da</strong> pena e a ingratidão de Fenisa, e foi mais poderosa a mágoa<br />

para suspender-me <strong>do</strong> que a mesma razão para queixar-me. Advertiu Roberto<br />

na suspensão em que me via e lembra-me que me falou desta sorte:<br />

- Agora, Lisar<strong>do</strong>, vos suspendeis como aluno nas tironices <strong>da</strong> fortuna?<br />

Agora que como veterano podíeis <strong>da</strong>r <strong>do</strong>cumentos de valor aos queixosos <strong>da</strong><br />

fortuna, vos mostrais tão desconfia<strong>do</strong> <strong>da</strong> sorte como se não estudáreis nas<br />

letras lições de desenganos que o mun<strong>do</strong> <strong>da</strong>r costuma? Já um descui<strong>do</strong> de<br />

Fenisa sentis pelo maior agravo? E sem terdes justa causa <strong>da</strong> queixa, já largais<br />

as armas como venci<strong>do</strong>? Estan<strong>do</strong> Fenisa com seus pais e com seus irmãos em<br />

porto seguro, e já vos <strong>da</strong>is por desengana<strong>do</strong>? Que Raimun<strong>do</strong> visite a Carlos<br />

por enfermo pode ser mais empenho de cortês que de afeiçoa<strong>do</strong>. Se Fenisa<br />

sabe reconhecer obrigações, não se exime de reconhecer as vossas; porque<br />

assi como um ânimo ingrato de na<strong>da</strong> se mostra obriga<strong>do</strong>, assim um coração

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