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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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700 Padre Mateus Ribeiro<br />

ca<strong>da</strong> qual investigar com os discursos aonde se dirige a harmonia e talvez<br />

culpan<strong>do</strong> a quem vive inocente.<br />

Como minha irmã Estela vivia com Salviano em as casas de seu<br />

morga<strong>do</strong>, e juntamente em companhia de sua mãe, que eram grandiosas, em<br />

diferente sítio e no melhor <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de, e eu com meus pais não tinha cousa que<br />

me desse cui<strong>da</strong><strong>do</strong> e vinha molesta<strong>do</strong> <strong>do</strong> caminho, quis passar adiante para<br />

recolher-me em casa, quan<strong>do</strong> se me puseram diante três rebuça<strong>do</strong>s, dizen<strong>do</strong>-<br />

me imperiosamente voltasse por outra parte porque por aquela estava o<br />

caminho impedi<strong>do</strong>. Respondi-lhes cortesmente que eu morava na própria rua e<br />

vinha de jorna<strong>da</strong> dilata<strong>da</strong> a recolher-me, e assim me dessem licença para o<br />

fazer, que eu não impedia a quem cantava que o fizesse. Dizen<strong>do</strong> isto,<br />

esporeei o cavalo para passar adiante. A resposta que me deram foi <strong>da</strong>rem<br />

uma cutila<strong>da</strong> no cavalo, que jarreta<strong>do</strong> de uma mão caiu comigo em terra. Eu,<br />

que me vi descomposto sobre ofendi<strong>do</strong>, sen<strong>do</strong> a ira, como diz Aristóteles,<br />

impetuosa aos arrojos e pouco acautela<strong>da</strong> aos perigos, e ven<strong>do</strong> que as<br />

espa<strong>da</strong>s nuas me vinham acometen<strong>do</strong>, levan<strong>do</strong> ao rosto uma espingar<strong>da</strong> que<br />

trazia, a disparei colérico e entre o escuro <strong>da</strong> noite, guian<strong>do</strong> seu destino e<br />

minha desgraça, caiu um <strong>do</strong>s três em terra, dizen<strong>do</strong> que o haviam morto.<br />

Gritaram logo os companheiros que haviam morto ao senhor Pascásio<br />

Malatesta. Apenas ouvi eu os tristes anúncios, quan<strong>do</strong> com to<strong>da</strong> a pressa<br />

corren<strong>do</strong> tratei de evitar o evidente perigo, não queren<strong>do</strong> ir a casa de meus<br />

pais, que, como disse, na própria rua moravam; cheguei à de Salviano, meu<br />

cunha<strong>do</strong>, a quem <strong>da</strong>n<strong>do</strong> assusta<strong>da</strong> e breve relação <strong>do</strong> sucedi<strong>do</strong>, de que<br />

ficaram to<strong>do</strong>s bem senti<strong>do</strong>s, por ser a quali<strong>da</strong>de de Pascásio a mais ilustre e<br />

poderosa de Perúsia, <strong>da</strong>n<strong>do</strong>-me um cavalo e algum dinheiro, na própria infelice<br />

noite me ausentei <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de, por que a justiça com os irmãos e parentes <strong>do</strong><br />

morto me não atalhassem o caminho.<br />

Era Pascásio Malatesta ilustríssimo no sangue, <strong>da</strong>s famílias mais<br />

poderosas <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de, em que muitas vezes havia esta<strong>do</strong> o governo dela no<br />

tempo de suas várias mu<strong>da</strong>nças. Era filho segun<strong>do</strong>, mancebo <strong>do</strong>ta<strong>do</strong> de<br />

partes, valor e com extremo de seus pais queri<strong>do</strong>; tinha <strong>do</strong>us irmãos: o<br />

morga<strong>do</strong> e outro mais moço, filhos de Pompeu Malatesta, pessoa de grande<br />

respeito na ci<strong>da</strong>de, assim pelo antigo esplen<strong>do</strong>r de sua família como pelo rico<br />

esta<strong>do</strong> que possuía. Apenas se divulgou a desgraça<strong>da</strong> morte, quan<strong>do</strong> acudin<strong>do</strong>

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