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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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356 Padre Mateus Ribeiro<br />

lamentavelmente as vi<strong>da</strong>s, como as virgens vestais, Ópia, Minúcia, Sextília e<br />

Túcia, que nesta ci<strong>da</strong>de de Roma foram sepulta<strong>da</strong>s vivas com perpétuo labéu<br />

de seu nome e descrédito de seus pais? Que melhora<strong>da</strong> sorte experimentou<br />

Tarpeia, morta com os escu<strong>do</strong>s pelos sabinos na entra<strong>da</strong> de Roma? Olímpia,<br />

mãe <strong>do</strong> grande Alexandre, degola<strong>da</strong> em Macedónia, Florin<strong>da</strong> despenha<strong>da</strong> em<br />

África, Cleópatra morta no Egipto, Marienne em Palestina por man<strong>da</strong><strong>do</strong> de<br />

Herodes, o cruel seu esposo? E outras sem número que não em suas casas,<br />

nem na presença <strong>do</strong>s seus, mas submergi<strong>da</strong>s nas on<strong>da</strong>s <strong>do</strong> mar e profun<strong>da</strong>s<br />

correntes <strong>do</strong>s rios, ou despenha<strong>da</strong>s <strong>do</strong>s roche<strong>do</strong>s, ou consumi<strong>da</strong>s <strong>da</strong>s chamas,<br />

ou atravessa<strong>da</strong>s <strong>do</strong> ferro em terras estranhas miseravelmente acabaram as<br />

vi<strong>da</strong>s?<br />

À vista deste desamparo, tragédia <strong>da</strong> fortuna, tirania <strong>da</strong> sorte tantas<br />

vezes no mun<strong>do</strong> representa<strong>da</strong>, muito tem a Deus que louvar e muitas as<br />

graças que à sua infinita misericórdia render quem em sua própria casa, na sua<br />

cama, na companhia e assistência de seus pais e esposo acaba uma vi<strong>da</strong><br />

mortal para principiar uma eterna vi<strong>da</strong>. Assim diz o apóstolo S. Paulo que<br />

despiremos o mortal para vestir o imortal. Quem, para vestir-se de uma gala<br />

rica e preciosa, sentiria despir e deixar um vesti<strong>do</strong> rasga<strong>do</strong>, pobre e tosco?<br />

Pois tal é esta a vi<strong>da</strong> mortal, se com a imortal a comparamos. Quem, sentin<strong>do</strong><br />

o cansaço e moléstias grandes <strong>do</strong> caminho, sentiria avizinhar-se a sua pátria,<br />

onde tinha o descanso seguro, o recreio certo e o refrigério conheci<strong>do</strong>? Pois<br />

sen<strong>do</strong> to<strong>da</strong> a nossa vi<strong>da</strong> caminho tão penoso <strong>da</strong>s aflições, tão repeti<strong>do</strong> nas<br />

moléstias, quem pode desejar tal vi<strong>da</strong>, tal peregrinação, que assim lhe chama o<br />

padre São Gregório 353 , que se não deseje antes na pátria com descanso, que<br />

na peregrinação deste mun<strong>do</strong> com trabalhos? Que ain<strong>da</strong> com o lume natural<br />

alcançou Séneca 354 que to<strong>da</strong> a nossa vi<strong>da</strong> era peregrinação e contínua<br />

jorna<strong>da</strong>.<br />

Sentis que morre na flor <strong>da</strong> i<strong>da</strong>de? Nessa morrem as rosas; que não<br />

pode ter vi<strong>da</strong> mais dilata<strong>da</strong> quem é flor. Não consiste a perfeição no dilata<strong>do</strong> <strong>da</strong><br />

vi<strong>da</strong>. Séculos vive um corvo, para to<strong>do</strong>s molesto, pouco vive um rouxinol, para<br />

to<strong>do</strong>s alívio. Quem dilata<strong>do</strong>s anos vive, dilata<strong>da</strong>s penas passa, vagarosos<br />

S. Gregor., Serm. 40.<br />

Seneca, De Senect.

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