17.04.2013 Views

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte V 793<br />

parece indecente: tem muito de pun<strong>do</strong>nor de uma e outra parte; e foi dito de<br />

Alexandre, como refere Plutarco 694 , que guerras que pela honra se empenham,<br />

ain<strong>da</strong> quan<strong>do</strong> percam a vitória, sempre ficam livres de censura. Porém se eu<br />

descobrir meio tão proporciona<strong>do</strong> ao conflito presente que nem Roberto perca<br />

a estimação, nem vós, senhor Lisar<strong>do</strong>, arrisqueis o crédito <strong>do</strong> patrocínio, e que<br />

sem desaires <strong>da</strong> opinião fiqueis um e outro em paz, sem o risca<strong>do</strong> <strong>da</strong><br />

pendência, parece-me a mi que com este arbítrio ambos ficareis satisfeitos e<br />

to<strong>do</strong>s os que estamos presentes de nossa obrigação desempenha<strong>do</strong>s.<br />

Aprovámos ambos o parecer de Mário por acerta<strong>do</strong>, se se descobrisse o<br />

meio que ele dizia, e ele prosseguiu, dizen<strong>do</strong>:<br />

- Para tirar o equívoco desta conten<strong>da</strong> é necessário explicar os motivos<br />

com que Roberto a Lívia, sua esposa, procura e a razão com que vós, senhor<br />

Lisar<strong>do</strong>, duvi<strong>da</strong>is de lha entregar. Ele busca-a com título de ofendi<strong>do</strong>, razão<br />

com que intentou <strong>da</strong>r-lhe a morte, e vós a levais com intento de assegurar-lhe a<br />

vi<strong>da</strong>. Nem eu me persua<strong>do</strong> que ela o haja ofendi<strong>do</strong>, pois, como diz<br />

Aristóteles 695 , nem tu<strong>do</strong> o que parece provável pode provar-se, e a fama que<br />

sempre teve de honesta o encontra, como escreve Euripides 696 , nem há outra<br />

prova mais que só devaneios de Teodósio, nos quais ela pode não ter culpa,<br />

como a casta Penélope a não tinha nas importunas pretensões de seus<br />

amantes nas ausências de Ulisses, seu mari<strong>do</strong>. O ser ama<strong>da</strong> não é culpa, por<br />

ser acção <strong>da</strong> vontade alheia que Lívia não podia evitar; o ser pretendi<strong>da</strong> não<br />

parece ofensa, pois os desvelos de outro, quem neles não tem senhorio, como<br />

pode emendá-los? As acções extrínsecas pendem só de quem as obra e não<br />

tem nelas jurisdição quem as reprova e aborrece. Pois especular pensamentos<br />

e descifrar o oculto <strong>da</strong> vontade não é empenho <strong>do</strong> humano juízo, pois aonde<br />

presume acertar, pode enganar-se. E como para provar-se um delito tão grave<br />

é necessário prova mui cabal e evidente, pois a satisfação dele não pende<br />

menos que <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, mal discursou o senhor Roberto em querer, leva<strong>do</strong> só de<br />

suas ciosas suspeitas, sem outra prova de estar ofendi<strong>do</strong>, intentar com a vi<strong>da</strong><br />

de sua esposa mostrar-se desagrava<strong>do</strong>; quan<strong>do</strong> o aplicar remédios sem haver<br />

Plut., De fort. Rom.<br />

Arist., Top. 1.<br />

Eurip., in Oly.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!