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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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812 Padre Mateus Ribeiro<br />

lágrimas tão poderosas que não só suspenderam a cruel batalha, mas ain<strong>da</strong><br />

estabeleceram entre eles uma paz firme e segura com suas lágrimas em seus<br />

corações escritas. Porém a vós não puderam reportar-vos <strong>do</strong> furor nem as<br />

lágrimas, nem a fermosura. Muitas vezes Herodes Ascalonita, o cruel, leva<strong>do</strong><br />

de ciúmes imagina<strong>do</strong>s foi para tirar a vi<strong>da</strong> a Mariene, sua esposa; porém<br />

quan<strong>do</strong> ia para ela com o punhal e a via tão fermosa, embargavam a execução<br />

de seu injusto furor os poderosos valimentos de sua vista, e in<strong>do</strong> com<br />

desconfianças de ofendi<strong>do</strong>, voltava com rendimentos de amante. Da própria<br />

boca sai o sopro que resfria e o vapor cáli<strong>do</strong> que aquenta, e sen<strong>do</strong> os efeitos<br />

tão contrários, em um mesmo instrumento se vem uni<strong>do</strong>s. Que levásseis vossa<br />

esposa para lhe <strong>da</strong>r a morte, acção foi <strong>da</strong>s injustas imaginações que vos<br />

moviam; mas que vos não demovesse sua beleza, nem suas lágrimas, sem<br />

estardes dela ofendi<strong>do</strong>, não sei se diga que foi excessiva paixão vossa ou se<br />

seria maior desgraça sua.<br />

Nunca o acelera<strong>do</strong> nas execuções trouxe outro fruto que os pesares <strong>do</strong><br />

arrependimento. Condenaram apressa<strong>da</strong>mente os juízes areopagitas de<br />

Atenas o filósofo Sócrates à morte, sen<strong>do</strong> acusa<strong>do</strong> falsamente por Melito e<br />

outros conjura<strong>do</strong>s de que desprezava os deuses <strong>da</strong> pátria e intentava introduzir<br />

novos ritos e sacrifícios em Atenas. Apressaram-se os juízes com o título <strong>da</strong><br />

impie<strong>da</strong>de, e sem examinarem com vagaroso espaço as quali<strong>da</strong>des <strong>do</strong>s<br />

acusa<strong>do</strong>res e a continente inteireza <strong>do</strong> acusa<strong>do</strong>, o condenaram à morte,<br />

man<strong>da</strong>n<strong>do</strong>-lhe beber no cárcere o veneno. Morreu Sócrates inocente <strong>do</strong> que o<br />

culpavam, e descobrin<strong>do</strong>-se em pouco tempo a falsi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> conjuração e a<br />

inocência <strong>do</strong> morto, de sorte se arrependeram os juízes <strong>da</strong> injusta condenação<br />

que haviam tão acelera<strong>da</strong>mente executa<strong>do</strong> que man<strong>da</strong>ram fechar as escolas<br />

públicas <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de em demonstração de sentimento, condenan<strong>do</strong> à morte a<br />

Melito, seu principal acusa<strong>do</strong>r, e desterran<strong>do</strong> aos outros condena<strong>do</strong>s para<br />

sempre de Atenas. Matou Periandro, tirano de Corinto, a couces apaixona<strong>do</strong> a<br />

sua mulher, sem outra causa mais que sua ira; e porque seu filho chorava<br />

magoa<strong>do</strong> a injusta morte que dera a sua mãe, <strong>do</strong>mina<strong>do</strong> ain<strong>da</strong> <strong>do</strong> indiscreto<br />

furor, o desterrou de Corinto. Porém depois que o discurso deu tréguas à<br />

paixão e a ira entra<strong>da</strong> ao sentimento, as lágrimas que no filho estranhou de<br />

apaixona<strong>do</strong>, veio ele depois a derramar de arrependi<strong>do</strong>, quan<strong>do</strong> não tirou fruto

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