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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte V 851<br />

mão de morta cor, a quem faltavam os realces e matizes mais finos <strong>da</strong>s cores<br />

vivas; era flor <strong>do</strong> campo à vista <strong>da</strong> mais bela rosa a quem a aurora em basti<strong>do</strong>r<br />

de esmeral<strong>da</strong>s broslou cui<strong>da</strong><strong>do</strong>sa de aljôfar as encarna<strong>da</strong>s folhas. Nem era<br />

maravilha, se em Doroteia era o montanhês natural e em Lívia o brioso <strong>do</strong>naire<br />

tão nativo, que ain<strong>da</strong> no tosco rebuço camponês, quan<strong>do</strong> presumia poder<br />

encobrir-se, mais sem o pretender queria manifestar-se.<br />

Roberto, seu esposo, a admirava, parecen<strong>do</strong>-lhe ca<strong>da</strong> vez mais bela;<br />

porque assi como a per<strong>da</strong> de uma jóia rica a sobe ain<strong>da</strong> a maior estimação<br />

para <strong>do</strong>brar a mágoa de perdi<strong>da</strong>, assim quan<strong>do</strong> acha<strong>da</strong> lhe aumenta o precioso<br />

<strong>do</strong> valor, consideran<strong>do</strong>-a venturosamente restituí<strong>da</strong>. Sen<strong>do</strong> que era Lívia com<br />

tal extremo fermosa que perdi<strong>da</strong> era prodígio <strong>da</strong> <strong>do</strong>r para senti<strong>da</strong> e restaura<strong>da</strong><br />

extremo <strong>da</strong> alegria para aplaudi<strong>da</strong>. Não se satisfaziam seus olhos com vê-la,<br />

hidrópicos <strong>da</strong> sede de admirá-la e pesaroso <strong>do</strong> trance a que a conduziram seus<br />

enganosos ciúmes, ficava sen<strong>do</strong> seu arrependimento o maior encontro de suas<br />

alegrias, ven<strong>do</strong> com quanta razão se mostraria queixosa quem padeci<strong>do</strong> tinha<br />

por sua causa tão repeti<strong>do</strong>s trabalhos, tão contínuos desgostos e moléstias tão<br />

pouco mereci<strong>da</strong>s. Lívia, com a vista de seu ingrato esposo, mal podia reprimir<br />

as perenes fontes de seus olhos, em outro tempo dele tão aplaudi<strong>do</strong>s pela<br />

beleza e hoje dela tão humedeci<strong>do</strong>s na consideração de seus trágicos<br />

desgostos e repeti<strong>do</strong>s perigos a que se viu exposta sua leal<strong>da</strong>de, por se haver<br />

mostra<strong>do</strong> Roberto tanto sem razão desconfia<strong>do</strong> dela.<br />

Imprimem-se na memória mais duráveis os agravos <strong>do</strong> que os<br />

benefícios, e fica sen<strong>do</strong> mais poderosa a queixa de uma ofensa <strong>do</strong> que o<br />

agradecimento de um favor: porque <strong>da</strong> queixa e ofensa é a memória acre<strong>do</strong>ra<br />

para senti-la e <strong>do</strong> benefício acre<strong>do</strong>ra para pagá-lo, e mais facilmente pode<br />

esquecer-se o que se deve para satisfazê-lo <strong>do</strong> que se olvi<strong>da</strong> o em que é o<br />

sentimento acre<strong>do</strong>r para cobrá-lo. Desejava Roberto poder enxugar as lágrimas<br />

a sua ofendi<strong>da</strong> Lívia, com manifestar-lhe seu arrependimento, abonan<strong>do</strong> as<br />

finezas de sua leal<strong>da</strong>de e confessan<strong>do</strong> os erros de seu indiscreto furor que o<br />

precipitou cioso a presumir ofensas aonde não havia culpas; porém com a<br />

presença de Feliciano e Antíoco não lhe era possível, por não manifestar o que<br />

sobretu<strong>do</strong> mais desejava poder encobrir. Violentava o pun<strong>do</strong>nor os afectos<br />

mais impacientes <strong>da</strong> vontade: pena grande quan<strong>do</strong> se proíbe à vontade o<br />

poder manifestar que ama e ao sentimento ofendi<strong>do</strong> se embarga o desafogo <strong>da</strong>

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