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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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424 Padre Mateus Ribeiro<br />

execução de aviso que de antes lhe havia escrito, suposto que faltan<strong>do</strong> o<br />

tempo com os divertimentos que referi, nunca lhe havia sobre isso fala<strong>do</strong>.<br />

Enfim to<strong>do</strong>s discursan<strong>do</strong> e nenhum acertan<strong>do</strong>, pois a acção equivocava<br />

diversos pensamentos, saímos de Castel-Venesio caminhan<strong>do</strong> a Len<strong>da</strong>nára e<br />

<strong>da</strong>í à Abbadia, populosas vilas, to<strong>da</strong>s de jurisdição e senhorio de Veneza que<br />

por capitulações de pazes que os antigos duques de Ferrara, depois de<br />

dilata<strong>da</strong> guerra, fizeram com a senhoria de Veneza, lhe ficou esta terra que se<br />

chama Marca Trivigiana ao <strong>do</strong>mínio veneziano que a possui.<br />

Nesta vila <strong>da</strong> Abbadia, ribeiras <strong>do</strong> rio Pó, tinha Alberto uma bem ren<strong>do</strong>sa<br />

e sumptuosa quinta em que tinha man<strong>da</strong><strong>do</strong> preparar um refresco para oferecer-<br />

nos, que suposto nos desculpávamos de fazer demora, ele a não consentiu.<br />

Enfim apean<strong>do</strong>-nos na quinta, estavam as mesas prepara<strong>da</strong>s com tal asseio,<br />

tal cópia de manjares custosos, tanta abundância de refrescos esquisitos, que<br />

duvi<strong>do</strong> que um grande príncipe o pudesse avantajar. Mas que muito, se estava<br />

Alberto empenha<strong>do</strong> nos cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s de Amatilde e ela, como se viu, não<br />

desafeiçoa<strong>da</strong> às bizarrias <strong>do</strong> ânimo e merecimentos de Alberto! Acompanhou a<br />

música o banquete. É a música usurpa<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> tempo, diz Aristóteles na<br />

Política, que se despende sem sentir-se, parecen<strong>do</strong> que suspende o sol seu<br />

uniforme movimento ao suave <strong>da</strong> harmonia, como a fábula que acreditou a<br />

antigui<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s sereias de Nápoles, como refere Sílio Itálico, a cujas suaves<br />

vozes diziam se esqueciam os navegantes não só <strong>do</strong> governo <strong>da</strong>s naus, mas<br />

de si mesmos. Isto digo, porque como o intento de Alberto era dilatar-nos para<br />

que a Módena não chegássemos, buscou to<strong>do</strong>s os divertimentos para<br />

suspender-nos o caminho, queren<strong>do</strong> como discreto juntamente obrigar a<br />

Amatilde com a grandeza <strong>do</strong>s serviços, e a nós deixar-nos em a suspensão<br />

<strong>do</strong>s discursos, sem com certeza podermos descifrar aonde seus pensamentos<br />

se dirigiam.<br />

Gastou-se parte <strong>da</strong> manhã em o referi<strong>do</strong>, e ao tempo que intentávamos<br />

prosseguir o caminho, disse Alberto, com ânimo resoluto, desta sorte:<br />

- Man<strong>da</strong>ram os romanos embaixa<strong>do</strong>res antigamente aos franceses,<br />

quan<strong>do</strong> entraram em Itália, a perguntar-lhes que direito ou justiça tinham para<br />

entrarem a conquistar a Toscana, e responderam que o seu direito consistia<br />

nas armas e que o mun<strong>do</strong> to<strong>do</strong> seria de quem tivesse valor para conquistá-lo.<br />

Assim direi eu, senhores, que o casamento <strong>da</strong> senhora Amatilde será meu,

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