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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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870 Padre Mateus Ribeiro<br />

vontades não é empenho em que não possam errar os humanos discursos.<br />

Soubéreis primeiro sua resolução e conforme a ela vos deliberáveis no que<br />

dever e obrar mais decente era. Porém com o arrojo de vossa ira privastes a<br />

vossa irmã de esposo, a vossos pais de consolação, a vós <strong>do</strong> útil de vossos<br />

estu<strong>do</strong>s, <strong>do</strong> sossego <strong>da</strong> pátria e <strong>da</strong> boa opinião que em Bolonha de vós se<br />

tinha.<br />

- Dá maior força a esta razão (disse eu então) o estar o lapso de vossa<br />

irmã totalmente neste tempo oculto; e mal que os vizinhos não alcançam, na<br />

política <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> não se pode chamar mal. Tanto tem este de oneroso, quanto<br />

tem de divulga<strong>do</strong>; e foi prolóquio de Platão 841 que não se tire a público o <strong>da</strong>no<br />

que está encoberto, porque sen<strong>do</strong> antes mal singelo, tanto que se divulgou fica<br />

sen<strong>do</strong> um agrega<strong>do</strong> de males. Se o <strong>da</strong>no fora sabi<strong>do</strong>, ain<strong>da</strong> pudéreis ter mais<br />

desculpa no acelera<strong>do</strong> <strong>da</strong> ira com o gravame <strong>da</strong> perdi<strong>da</strong> fama, a ignomínia<br />

trivia<strong>da</strong> <strong>do</strong>s juízes, o descrédito volátil não só na pátria, mas ain<strong>da</strong> em<br />

povoações diferentes, aonde ca<strong>da</strong> um julga conforme o afeiçoa<strong>do</strong> ou o<br />

inficiona<strong>do</strong> de sua natural inclinação, não <strong>da</strong>n<strong>do</strong> talvez quartel ao desculpável,<br />

antes acriminan<strong>do</strong> to<strong>da</strong> a culpa a um infelice. Porém estan<strong>do</strong> o agravo em<br />

silêncio, a ofensa sem vozes, o engano imperceptível, o descrédito ignora<strong>do</strong> e<br />

finalmente a injúria para com o mun<strong>do</strong> sem título por onde a conhecer, excesso<br />

foi <strong>da</strong> paixão e estímulo indiscreto <strong>da</strong> ira tratardes tão de repente <strong>da</strong> vingança,<br />

sem esperardes meio à satisfação.<br />

Sobre isto, pois cometestes o homicídio de noite, porque não vos<br />

assegurastes em outra parte em que não pudésseis ser preso: não havia<br />

Módena, Pádua, Veneza e Nápoles para onde pudésseis retirar-vos? Que<br />

pretendíeis nos eminentes roche<strong>do</strong>s e condensos vales <strong>do</strong> Apenino, só de<br />

criminosos insolentes e foragi<strong>do</strong>s insultuosos habita<strong>do</strong>s? Como vos haviam de<br />

assegurar os que <strong>do</strong> temor <strong>do</strong> castigo jamais vivem seguros? Que remédio vos<br />

haviam de <strong>da</strong>r os que vivem desespera<strong>do</strong>s <strong>do</strong> remédio? Que conselhos<br />

esperáveis receber <strong>do</strong>s que em seus insultos nunca tomaram conselho? E<br />

sen<strong>do</strong> vós tão severo vingativo <strong>da</strong> honra de vossa irmã, como tanto abatestes a<br />

vossa própria e de vossos pais em an<strong>da</strong>rdes feito ban<strong>do</strong>leiro na esquadra de<br />

Leopol<strong>do</strong>, cruento capitão de foragi<strong>do</strong>s, rouban<strong>do</strong> por seu man<strong>da</strong><strong>do</strong> injusto as<br />

Plat., De sum. bon.

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