17.04.2013 Views

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte III 453<br />

de partirem com a brevi<strong>da</strong>de possível, o que ele lhe prometeu, que quan<strong>do</strong> se<br />

empenha a fermosura em pedir, poucas vezes se retira sem o despacho<br />

alcançar.<br />

Acomo<strong>do</strong>u-os no melhor aposento, <strong>da</strong>n<strong>do</strong>-lhe os refrescos <strong>da</strong> nau os<br />

mais estima<strong>do</strong>s, que bem via que quem a tais horas <strong>da</strong> noite e sem<br />

matalotagem se embarcava, traziam por mantimento o temor e por alimento o<br />

cui<strong>da</strong><strong>do</strong>. To<strong>do</strong>s em secreto discursavam sobre quem estes navegantes seriam,<br />

pois para senhores vinham sós e para ricos desprovi<strong>do</strong>s: as horas suspeitosas,<br />

que bem mostravam no arrojo de se fiarem <strong>da</strong>s on<strong>da</strong>s que nascia a temeri<strong>da</strong>de<br />

<strong>do</strong> temor e a valentia <strong>do</strong> receio; porque quem vive ameaça<strong>do</strong> de maior mal,<br />

não duvi<strong>da</strong> em se aventurar ao menos. Porém quem sobre to<strong>do</strong>s mais<br />

sobressalta<strong>do</strong> nos discursos se mostrava era o capitão Raimun<strong>do</strong>, que à vista<br />

<strong>da</strong> beleza e bizarria de Flora consigo solitário assim dizia:<br />

- Que desvelo é este que assalta meu coração? Que novo cui<strong>da</strong><strong>do</strong><br />

combate meu juízo que em tão breve espaço de tempo nem me permite<br />

descanso para respirar, nem me concede sossego para viver? Que passageira<br />

é esta que quer surcar os mares e experimentar o inquieto de suas on<strong>da</strong>s, que<br />

para pequena tem tantos assomos de grande e para pobre tantos respeitos de<br />

rica? De que se teme na terra a fermosura que vem buscar no mar a<br />

segurança? Ou que delitos cometeu tanta beleza que possa temer-se <strong>do</strong>s<br />

castigos? Pede-me que nascen<strong>do</strong> a aurora largue as velas e há muito que em<br />

seus olhos nasce o dia. Que pouca falta fica fazen<strong>do</strong> um sol para <strong>da</strong>r luzes,<br />

quan<strong>do</strong> em seu rosto vejo duplica<strong>do</strong>s resplan<strong>do</strong>res? Quem se viu como eu tão<br />

venturoso e infelice que tenha em meu poder o maior tesouro, haven<strong>do</strong> de ser<br />

eu quem o guarde e outro quem o logre? Pois não permita amor tal injustiça,<br />

desvele-se como eu, pois me desvelo, e sinta a inquietação que minha alma<br />

sente, até que o tempo descubra o oculto deste enigma em que meu juízo<br />

desmaia e meu coração se atormenta.<br />

Assim discursan<strong>do</strong> chamou a Reginal<strong>do</strong> e lhe pediu fosse hóspede na<br />

sua camera, e que aquela senhora mais retira<strong>da</strong> <strong>da</strong> vista <strong>do</strong>s passageiros, para<br />

maior decência, em outro aposento aparta<strong>da</strong> estivesse, onde seria com to<strong>do</strong> o<br />

cui<strong>da</strong><strong>do</strong> servi<strong>da</strong>. Suspenso ficou Reginal<strong>do</strong> com a proposta <strong>do</strong> capitão<br />

Raimun<strong>do</strong>, mas como necessitava tanto de seu favor, e o contradizer a seu<br />

gosto seria arruinar a fábrica de suas esperanças, lhe deu as graças <strong>do</strong>

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!