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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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74 A novela portuguesa no século XVII:<br />

se livram de fortes censuras à descortesia, desmesura<strong>da</strong> ambição e violência<br />

de que usaram, caben<strong>do</strong> ao primeiro a morte perpetra<strong>da</strong> pela resistente<br />

<strong>do</strong>nzela e o segun<strong>do</strong>, fruto <strong>da</strong> intersecção de figuras poderosas, acaba por<br />

casar com a jovem, resolven<strong>do</strong>-se pelo matrimónio, tal como noutras<br />

narrativas, as desavenças familiares e o desejo de vingança. Em virtude <strong>da</strong><br />

divergência que marca o fim destas personagens, estes episódios servem<br />

ain<strong>da</strong> de motivo para uma extensa digressão sobre a desacerta<strong>da</strong> aplicação <strong>da</strong><br />

justiça que se fun<strong>da</strong>menta na desigual<strong>da</strong>de de estatuto e na diferença de<br />

riqueza <strong>do</strong>s intervenientes: "Mas como hoje, com o discurso <strong>do</strong>s anos,<br />

mu<strong>da</strong>nça <strong>da</strong>s monarquias e varie<strong>da</strong>de <strong>do</strong>s tempos, vem a estar tão destemi<strong>do</strong><br />

o poder e tão acovar<strong>da</strong><strong>da</strong> a razão, ten<strong>do</strong> poucos que a amparem e o valimento<br />

tantos que o apadrinhem, quem confiará seus agravos <strong>da</strong> justiça contra o poder<br />

e <strong>da</strong> razão contra o valimento? ,nQ<br />

Sen<strong>do</strong> o amor o centro temático de to<strong>da</strong>s as narrativas, são frequentes os<br />

comentários relativos aos perigos que resultam <strong>da</strong>s loucuras cometi<strong>da</strong>s em<br />

nome <strong>do</strong> amor. Ao iniciar o relato <strong>da</strong> sua atribula<strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, constituí<strong>da</strong> por<br />

sucessivos incidentes trágicos, Dionísio refere a Felisberto a origem de to<strong>do</strong>s<br />

os seus males: a sua paixão por Teo<strong>do</strong>ra. Após vinte dias <strong>do</strong> seu festeja<strong>do</strong><br />

casamento, Teo<strong>do</strong>ra foge com Maurício, falso amigo <strong>do</strong> Peregrino. Segue-se<br />

então uma longa reflexão sobre a traição efectua<strong>da</strong> por amigos, agravo <strong>do</strong>s<br />

mais senti<strong>do</strong>s, nomean<strong>do</strong> <strong>caso</strong>s históricos exemplifica<strong>do</strong>res <strong>da</strong> desleal<strong>da</strong>de e<br />

<strong>da</strong> falsa correspondência entre amigos.<br />

Com vista à vingança <strong>da</strong> sua desonra, Dionísio encetou uma longa<br />

perseguição ao par fugitivo, calcorrean<strong>do</strong> inúmeras terras entre Bruxelas e<br />

Castela, até encontrar junto ao rio Tormes um ermitão espanhol. Depois <strong>do</strong><br />

temor deriva<strong>do</strong> de tão inespera<strong>do</strong> encontro, o ermitão historiou os seus<br />

desaires, motiva<strong>do</strong>s igualmente pelo amor e pela traição de um amigo.<br />

Apaixona<strong>do</strong> por Lisar<strong>da</strong>, alvo também <strong>do</strong> cortejo amoroso de Frederico, seu<br />

irmão primogénito, o ermitão espanhol socorreu-se <strong>da</strong> aju<strong>da</strong> de D. Sancho, seu<br />

amigo e companheiro de estu<strong>do</strong>s. Numa rocambolesca série de<br />

acontecimentos, D. Sancho e Lisar<strong>da</strong> tentam uma fuga nocturna, mas são<br />

impedi<strong>do</strong>s pelo ermitão. Desta traição de D. Sancho sobreveio o trágico<br />

139<br />

Mateus RIBEIRO, Alivio de tristes e consolação de queixosos, Parte II, p.274.

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