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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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924 Padre Mateus Ribeiro<br />

Dous motivos, poderoso senhor, teve a ofensa que te fiz, que foram na<br />

princesa, minha senhora, extremos de fermosura e em meu coração requintas<br />

extremosas de amor, e trazem consigo extremos de amante delírios de<br />

entendi<strong>do</strong>. Cegou-me o portentoso <strong>da</strong> beleza; que maravilha que um cego se<br />

despenhasse, pois an<strong>da</strong>n<strong>do</strong> às escuras não conhece o caminho? Foi minha<br />

eleição discreta e meu arrojo louco; teve dilúci<strong>do</strong>s intervalos meu discurso,<br />

subomou-se <strong>da</strong> vontade e não temeu o perigo. Favoreceu-me a ventura porque<br />

me faltavam méritos, e por isso consegui tão felice sorte. Só me fica a mágoa<br />

de ser adquiri<strong>do</strong> tanto bem com ofensa tua, pois sem tu ficares ofendi<strong>do</strong> era<br />

impossível ficar eu sen<strong>do</strong> venturoso. Já, clementíssimo senhor, me<br />

asseguraste o perdão, já tua pie<strong>da</strong>de me concedeu o indulto: pois, senhor, tua<br />

real palavra seja meu escu<strong>do</strong>, tua grandeza minha defensa, tua benigni<strong>da</strong>de<br />

meu patrocínio para me concederes o perdão que me prometeste, que com as<br />

lágrimas de meus olhos a teus pés prostra<strong>do</strong> arrependi<strong>do</strong> te peço.<br />

Com grande atenção ouviu o clemente empera<strong>do</strong>r a humilde prática de<br />

Manfre<strong>do</strong>, a quem e à princesa Eurides avaliava serem mortos, pois tantas<br />

diligências em tantos anos feitas nunca deles puderam descobrir notícias<br />

algumas; e alvoroça<strong>do</strong> com os anúncios de ser Eurides viva, pôs os olhos nas<br />

copiosas lágrimas que Manfre<strong>do</strong> derramava e lhe respondeu, dizen<strong>do</strong>:<br />

- Minha palavra pesa tanto na estimação como minha coroa; e pois<br />

tiveste a ventura de assegurar-te o perdão, eu te per<strong>do</strong>o.<br />

Foi Manfre<strong>do</strong> a querer beijar-lhe os pés, mas Constâncio o levantou nos<br />

braços e acompanhou nas lágrimas de enterneci<strong>do</strong>, a quem Manfre<strong>do</strong> referiu<br />

os largos discursos de sua peregrinação até o esta<strong>do</strong> presente, de que<br />

admira<strong>do</strong> o empera<strong>do</strong>r ordenou que logo Eurides com seus filhos à corte<br />

viessem, despachan<strong>do</strong> com Manfre<strong>do</strong> muitos ilustres senhores de seu paço<br />

para os acompanharem com a decência devi<strong>da</strong>.<br />

Descui<strong>da</strong><strong>da</strong> de tanta ventura estava Eurides, antes receosa de algum<br />

infortúnio, passava sau<strong>do</strong>sa a vi<strong>da</strong> com seus filhos, esperan<strong>do</strong> novas de seu<br />

esposo, duvi<strong>da</strong>n<strong>do</strong> em que viria a parar o valimento que lhe avisava que com o<br />

empera<strong>do</strong>r tinha, confian<strong>do</strong> pouco <strong>da</strong>s privanças a quem vão no paço seguin<strong>do</strong><br />

sempre as invejas como inimigas <strong>da</strong>s maiorias. De repente, neste cui<strong>da</strong><strong>do</strong>so<br />

descui<strong>do</strong> em que ansia<strong>da</strong> vivia, viu as tropas <strong>da</strong> cavalaria que com coches se<br />

avizinhavam à solitária selva e retira<strong>do</strong> bosque em que vivia e a Manfre<strong>do</strong> que

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