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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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1038 Padre Mateus Ribeiro<br />

exercício com facili<strong>da</strong>de desfalece, e assim tu<strong>do</strong> o que não se vê continua<strong>do</strong><br />

vem a ser esqueci<strong>do</strong>.<br />

O olvi<strong>do</strong> <strong>da</strong>s infelici<strong>da</strong>des, diz Euripides 1130 , é mimo com que a ventura<br />

consola aos tristes; porque se sempre se lembrassem de seus infortúnios<br />

padeci<strong>do</strong>s, pouco durável seria a vi<strong>da</strong>, combati<strong>da</strong> de repeti<strong>do</strong>s sentimentos.<br />

Esta ver<strong>da</strong>de se vê experimenta<strong>da</strong> na morte <strong>da</strong>s pessoas mais ama<strong>da</strong>s e <strong>da</strong>s<br />

pren<strong>da</strong>s mais queri<strong>da</strong>s, cujo apartamento parece intolerável ao amor,<br />

parecen<strong>do</strong> impossível divórcio a união <strong>do</strong> querer. Vemos contu<strong>do</strong> que o<br />

costume forçoso de não ver, o repeti<strong>do</strong> de não ouvir, a continuação de não<br />

falar, a carência <strong>da</strong> vista que foi tão ama<strong>da</strong>, o impossível de ouvir a voz que foi<br />

tão aplaudi<strong>da</strong>, vem a causar esquecimento <strong>do</strong> amável, suspenden<strong>do</strong>-se a<br />

mágoa de perder o que parecia <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> o maior alento. Pois se ain<strong>da</strong> em o que<br />

foi mais amável obra tão poderosamente a falta <strong>da</strong> costuma<strong>da</strong> comunicação, a<br />

privação <strong>da</strong> vista, a suspensão <strong>do</strong> trato, que em breves perío<strong>do</strong>s <strong>do</strong> tempo se<br />

perde a lembrança e se apaga a impressão que tinha na memória o amor com<br />

o costume grava<strong>da</strong>, a imagem mais queri<strong>da</strong> se risca, o objecto mais estima<strong>do</strong><br />

se escurece na névoa <strong>do</strong> esquecimento; com quanta maior razão será a<br />

ausência eficaz para riscar <strong>da</strong> memória o odioso gravame <strong>da</strong> ingratidão, os<br />

desaires <strong>da</strong> mu<strong>da</strong>nça e as ofensas recebi<strong>da</strong>s de quem tão obriga<strong>da</strong> estava a<br />

mostrar-se constante? Desmaia muitas vezes o vital com as opressões de um<br />

acidente, fazen<strong>do</strong> duvi<strong>do</strong>sas equivocações <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> com a morte; e duvi<strong>da</strong>reis<br />

que com a privação de verdes os sujeitos que vos ofendem desmaie a<br />

memória, fazen<strong>do</strong> divórcio com a estampa <strong>do</strong> que hoje vos julgais ofendi<strong>do</strong>?<br />

Não se isentan<strong>do</strong> o amor de padecer esquecimento nas ausências, como se<br />

poderá livrar o aborrecimento de nas ausências não ficar esqueci<strong>do</strong>?<br />

Menos magoa, diz Cícero 1131 , o que se ouve <strong>do</strong> que o que com os olhos<br />

se vê, porque assim como a vista é mais subtil que o ouvir, como se vê no<br />

relâmpago, que sen<strong>do</strong> parto gémeo <strong>da</strong> nuvem com o trovão, primeiro o<br />

relâmpago se vê <strong>do</strong> que o trovão se ouça, assim o que se vê dura muito na<br />

imaginação e o que se ouve chega tarde e dura menos, porque o sonoro não<br />

tem a duração como o visível. Com a distância <strong>da</strong> ausência vos livrais de ca<strong>da</strong><br />

Euripid., apud Plut.<br />

Cicer., Ad Curió.

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