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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte II 251<br />

Despedi<strong>do</strong> o pajem com esta resposta, consultámos os três o meio<br />

menos arrisca<strong>do</strong> para a fugi<strong>da</strong>.<br />

- Prolóquio foi (disse Alexandre) de Públio Mimo que um perigo grande<br />

não se vence sem outro; e o Séneca ensina que o valor é desejoso <strong>do</strong>s<br />

perigos. Eu, senhores, me vejo em esta<strong>do</strong> de me aventurar aos maiores por<br />

salvar a vi<strong>da</strong>: buscá-los sem causa é temeri<strong>da</strong>de, como diz Santo Ambrósio 298 ;<br />

mas quan<strong>do</strong> a necessi<strong>da</strong>de obriga e a ocasião a requer, e quan<strong>do</strong> outro<br />

remédio se não descobre, será mais desalento <strong>do</strong> coração e desmaio <strong>do</strong> valor<br />

obrar com regras <strong>da</strong> prudência que com os arrojos de temerário. Do vice-rei<br />

não há esperar pie<strong>da</strong>de pelo que tem de zeloso <strong>da</strong> justiça, o <strong>caso</strong> <strong>da</strong> morte <strong>do</strong><br />

ministro é capital, eu estou preso e em vésperas de ser leva<strong>do</strong> ao cárcere<br />

público de Nápoles, para dele sair a deixar a cabeça nas mãos de um verdugo,<br />

com lástima perpétua e lágrimas de meus pais, e assim a troco de evitar tão<br />

irreparável <strong>da</strong>no me resolvo aventurar antes a vi<strong>da</strong> a qualquer risco, pois<br />

estan<strong>do</strong> prisioneiro tenho a morte por certa e na fugi<strong>da</strong> duvi<strong>do</strong>sa; e quan<strong>do</strong> os<br />

<strong>da</strong>nos são inevitáveis, parece mais acerto seguir o que deixa alguma sombra à<br />

esperança que o outro, <strong>do</strong>nde em flor to<strong>da</strong> a esperança se corta.<br />

- Esse é meu parecer, disse Dom Sancho, mas a mim me ocorre um<br />

pensamento que porventura sem risco nos pode ocasionar o remédio, e vem a<br />

ser que como vós, senhor Alexandre, estais tão pren<strong>da</strong><strong>do</strong> nos amorosos<br />

desvelos de Eugenia, a quem sua rara fermosura e discrição habilitam para ser<br />

esposa de qualquer grande sujeito, se entendeis que ela com tanto extremo se<br />

vos mostra afeiçoa<strong>da</strong> e o coração rendi<strong>do</strong> não há empresa que pareça<br />

dificultosa; sabei fazer <strong>do</strong> amor conveniência e <strong>do</strong> perigo remédio, com a<br />

persuadir a que <strong>da</strong>n<strong>do</strong>-lhe palavra de esposo queira convosco ausentar-se,<br />

manifestan<strong>do</strong>-lhe o risco em que está vossa vi<strong>da</strong>; que se o amor que vos<br />

mostra é ver<strong>da</strong>deiro, não será primeira fineza deixar a casa de seus pais por<br />

segurar (a) a vi<strong>da</strong> a seu esposo. Não fez instância grandíssima a mulher <strong>do</strong><br />

romano Lentulo, Sulpícia, sen<strong>do</strong> ele proscrito e condena<strong>do</strong> à morte por Octávio<br />

e Marco António, queren<strong>do</strong> fugir? E pedin<strong>do</strong>-lhe a mulher com instâncias a<br />

levasse consigo, e não lho conceden<strong>do</strong> ele pelo risco que corria, ela deixan<strong>do</strong><br />

S. Ambr., Offic. 1.<br />

Segurar corresponde à forma mais comum de assegurar.

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