12.06.2017 Views

Código de Processo Penal Comentado (2016) - Guilherme de Souza Nucci

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

<strong>de</strong>vem ser fundamentadas, pena <strong>de</strong> nulida<strong>de</strong> (CF, art. 93, IX). A <strong>de</strong>núncia, dada a limitação normativa do magistrado,<br />

impedido <strong>de</strong> avançar o entendimento quanto ao mérito, restringir-se-ia a registrar a legitimida<strong>de</strong> (ativa e passiva),<br />

tipicida<strong>de</strong> da imputação e ausência da causa extintiva <strong>de</strong> punibilida<strong>de</strong>. Despacho meramente formal que não se<br />

coaduna com o sentido material do comando da Constituição” (RHC 8.481 – SC, 6.ª T., rel. Cernicchiaro,<br />

16.04.1999, v.u., DJ 31.05.1999, p. 189); RHC 9.165 – SP, 5.ª T., rel. Felix Fischer, 14.12.1999, v.u., DJ<br />

14.02.2000, p. 47; RHC 9.038 – RS, 5.ª T., rel. Felix Fischer, 02.12.1999, v.u., DJ 14.02.2000, p. 46. Em posição<br />

contrária, por todos, Antonio Magalhães Gomes Filho: “Especialmente após a Constituição <strong>de</strong> 1988, não é possível<br />

continuar a enten<strong>de</strong>r-se que o provimento judicial que recebe a <strong>de</strong>núncia ou a queixa seja um mero <strong>de</strong>spacho <strong>de</strong><br />

expediente, sem carga <strong>de</strong>cisória, que dispensaria a motivação reclamada pelo texto constitucional; trata-se, com<br />

efeito, <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>cisão que não po<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ser fundamentada, o que, aliás, vem sendo ressaltado sem hesitações<br />

pela doutrina” (A motivação das <strong>de</strong>cisões penais, p. 209).<br />

107. Falta <strong>de</strong> assinatura na <strong>de</strong>núncia ou na queixa: quanto à <strong>de</strong>núncia, tendo em vista que o<br />

representante do Ministério Público é órgão oficial, conhecido – ou passível <strong>de</strong> sê-lo – dos serventuários, e,<br />

consequentemente, terá vista aberta para sua manifestação, a falta <strong>de</strong> assinatura é mera irregularida<strong>de</strong>, não<br />

impedindo o seu recebimento, especialmente se for imprescindível para evitar a prescrição. Quanto à queixa, temos<br />

que não po<strong>de</strong> prescindir da assinatura, pois é ato fundamental <strong>de</strong> manifestação da vonta<strong>de</strong> da vítima, que dá início à<br />

ação penal dando entrada no distribuidor, como regra. Logo, cabe ao juiz, quando a recebe, analisar quem a faz, se<br />

realmente a fez e se tinha po<strong>de</strong>res ou capacida<strong>de</strong> para tanto. Não <strong>de</strong>ve recebê-la sem a assinatura, ainda que isso<br />

possa acarretar a <strong>de</strong>cadência. Na jurisprudência: TJSE: “A falta <strong>de</strong> assinatura da <strong>de</strong>núncia, constitui-se em mera<br />

irregularida<strong>de</strong> processual, não sendo causa para o trancamento da ação penal” (HC 0499/2009 – SE, C.C, rel. Edson<br />

Ulisses <strong>de</strong> Melo, 28.09.2009, v.u.).<br />

108. Deficiências da <strong>de</strong>núncia ou da queixa: po<strong>de</strong>m ser supridas a todo tempo, antes da sentença final <strong>de</strong><br />

primeiro grau (art. 569, CPP), <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que a falha não prejudique a <strong>de</strong>fesa a que tem direito o réu/querelado. Nessa<br />

ótica: STF: “Eventuais <strong>de</strong>feitos da <strong>de</strong>núncia <strong>de</strong>vem ser arguidos antes da prolação da sentença” (HC 77.652 – SP,<br />

rel. Nélson Jobim, 2.ª T., v.u., 15.12.1998, DJ 20.08.1999, p. 23). Na mesma linha: STJ: “Não cabe alegar inépcia<br />

da <strong>de</strong>núncia quando já prolatada <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> mérito, confirmada, inclusive, em grau <strong>de</strong> recurso” (HC 8.531 – RJ, 5.ª<br />

T., rel. Edson Vidigal, 05.08.1999, v.u., DJ 13.09.1999, p. 75). E também: HC 8.527 – RJ, 5.ª T., rel. Gilson Dipp,<br />

05.10.1999, v.u., DJ 25.10.1999, p. 99. Em algumas situações, cuidando-se <strong>de</strong> <strong>de</strong>feitos mínimos, não há nem<br />

mesmo necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se exigir aditamento: TJMG: “A exordial acusatória realmente não informa os dias exatos da<br />

prática <strong>de</strong>lituosa, mas revela que os fatos se <strong>de</strong>ram entre os meses <strong>de</strong> setembro e outubro do ano <strong>de</strong> 1998. Tal<br />

questão afigura-se apenas como uma formalida<strong>de</strong> secundária que não tem o condão <strong>de</strong> tornar nulo todo o processo,<br />

vez que, in casu, nada influenciou para a <strong>de</strong>fesa do acusado, não lhe trazendo qualquer forma <strong>de</strong> prejuízo. Assim,<br />

entendo correto afirmar ser dispensável a indicação pontual da data da prática da conduta criminosa perpetrada pelo<br />

réu, pois o contrário estaria a consolidar a impunida<strong>de</strong> quando da impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se <strong>de</strong>limitar a data dos fatos, o<br />

que não se po<strong>de</strong> admitir. Deste modo, e ao contrário do alegado pelo apelante, a <strong>de</strong>núncia <strong>de</strong> fls. 02/04, bem como<br />

seu aditamento <strong>de</strong> fls. 87/89, revestem-se <strong>de</strong> todas as formalida<strong>de</strong>s exigidas no art. 41 do <strong>Código</strong> <strong>de</strong> <strong>Processo</strong><br />

<strong>Penal</strong>, não havendo, portanto, nulida<strong>de</strong> a ser <strong>de</strong>clarada, tendo sido possibilitada à parte a mais ampla <strong>de</strong>fesa”. (Ap.<br />

1.0223.99.030264-6/001, 1.ª C., rel. Márcia Milanez, 15.03.2005, v.u.). No caso da queixa, eventuais <strong>de</strong>ficiências<br />

que a comprometam <strong>de</strong>vem ser sanadas antes dos seis meses que configuram o prazo <strong>de</strong>ca<strong>de</strong>ncial. Do contrário,<br />

estar-se-ia criando um prazo bem maior do que o previsto em lei para que a ação penal privada se iniciasse<br />

validamente. Conferir jurisprudência do Pretório Excelso, embora antiga, ainda no mesmo prisma: STF: “É <strong>de</strong><br />

rejeitar-se se, omisso, quanto à <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong> fato <strong>de</strong>lituoso, o querelante não supriu as falhas no prazo assinado<br />

pelo juiz, <strong>de</strong>ixando para fazê-lo quando já extinto o direito <strong>de</strong> queixa” (RE 67.271 – RS, 1.ª T., rel. Aliomar

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!