12.06.2017 Views

Código de Processo Penal Comentado (2016) - Guilherme de Souza Nucci

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

aumentada, além <strong>de</strong> não trazer benefício <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m prática, pois continuará insistindo na negativa <strong>de</strong> autoria, por<br />

exemplo, ou no reconhecimento <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminada exclu<strong>de</strong>nte. Enfim, apesar <strong>de</strong> ser regra existente em alguns outros<br />

sistemas normativos, parece-nos superfetação do princípio do contraditório e inócuo para a ampla <strong>de</strong>fesa. Note-se<br />

a conturbação processual que po<strong>de</strong> ocorrer, dando margem à perplexida<strong>de</strong> das partes e até gerando insegurança<br />

quanto à convicção do juiz: “Contudo, nessa hipótese, não estará o juiz obrigado a julgar segundo a nova capitulação<br />

jurídica dos fatos, em face da qual convidou as partes a se manifestarem. O juiz comunica às partes a possibilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> os fatos virem a ser subsumidos a um tipo penal diverso. Nesse momento há apenas a possibilida<strong>de</strong>, mas não<br />

certeza, da nova qualificação jurídica dos fatos. Tal certeza só existirá com a sentença” (Badaró, Correlação entre<br />

acusação e sentença, p. 164). Quanto ao exemplo aventado por Pozzer, não vemos possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tal ocorrer na<br />

prática. Explicamos: o réu se <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> dos fatos a ele imputados. A <strong>de</strong>fesa técnica, tão capacitada quanto o promotor<br />

e o juiz, avalia o teor da imputação à luz da <strong>de</strong>finição jurídica do fato. Ora, se a acusação <strong>de</strong>screveu integralmente<br />

uma calúnia, embora tenha capitulado como injúria, é mais do que óbvio caber à <strong>de</strong>fesa técnica levantar, no<br />

momento oportuno, a exceção da verda<strong>de</strong>, com fundamento nos fatos narrados e não na classificação feita. O juiz<br />

certamente <strong>de</strong>terminará o seu processamento. O mesmo se diga se o réu, por exemplo, no interrogatório se retratar<br />

do que falou. Cuidando-se <strong>de</strong> calúnia – imputação fática feita na peça acusatória –, ainda que a classificação do<br />

<strong>de</strong>lito baseie-se em injúria, é natural que o juiz <strong>de</strong>verá julgar extinta a punibilida<strong>de</strong>. A imputação fática realizada é a<br />

<strong>de</strong>terminante, ainda, para o cálculo da prescrição (ver a nota 38 ao art. 109 do nosso <strong>Código</strong> <strong>Penal</strong> comentado),<br />

pouco interessando a classificação feita pelo órgão acusatório. Tudo isso está a <strong>de</strong>monstrar que inexiste<br />

possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> prejuízo à <strong>de</strong>fesa. O réu – auto<strong>de</strong>fesa – apresentará a sua versão dos fatos que o juiz lhe narrar,<br />

conforme a <strong>de</strong>núncia ou queixa. O seu <strong>de</strong>fensor analisará, criteriosamente, os mesmos fatos e promoverá, <strong>de</strong><br />

acordo com seu entendimento, a classificação cabível no interesse da ampla <strong>de</strong>fesa, <strong>de</strong>sprezando, para esse fim, o<br />

que foi capitulado na <strong>de</strong>núncia ou queixa.<br />

27-A. Definição jurídica do fato e liberda<strong>de</strong> provisória: ver nota 54 ao art. 310, parágrafo único.<br />

27-B. Nova <strong>de</strong>finição jurídica do fato e suspensão condicional do processo: a introdução do § 1.º<br />

ao art. 383 do CPP é consequência natural da alteração da tipicida<strong>de</strong> do fato e complementa o processo <strong>de</strong><br />

emendatio libelli. Afinal, se a nova <strong>de</strong>finição jurídica do fato é viável, inclusive para a aplicação <strong>de</strong> pena mais<br />

grave, naturalmente, o mesmo se dá para a aplicação <strong>de</strong> benefícios anteriormente não concedidos por falta <strong>de</strong><br />

condições. Se o crime inicialmente imputado previa pena mínima superior a um ano, não se podia utilizar o<br />

instituto da suspensão condicional do processo (art. 89, Lei 9.099/95). Porém, vislumbrando a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que<br />

isto se concretize, cabe ao magistrado, em <strong>de</strong>cisão fundamentada, <strong>de</strong>terminar a abertura <strong>de</strong> vista ao Ministério<br />

Público, a fim <strong>de</strong> que possa oferecer proposta, se for o caso. É evi<strong>de</strong>nte que, para tanto, estará o magistrado, nessa<br />

situação, vinculado à nova <strong>de</strong>finição jurídica do fato. Se o representante do Ministério Público recusar a proposta –<br />

tornando-se esta, realmente, inviável – a sentença <strong>de</strong>ve ser proferida, se con<strong>de</strong>natória, com base na <strong>de</strong>finição<br />

jurídica exposta anteriormente pelo juiz. Não teria sentido o retrocesso, pois houve uma medida processual<br />

extremamente relevante, que foi a possibilida<strong>de</strong> efetiva <strong>de</strong> se paralisar o feito, em função <strong>de</strong> eventual concessão da<br />

suspensão condicional do processo. Porém, convém conferir a Súm. 536 do STJ, que dispõe: “A suspensão<br />

condicional do processo e a transação penal não se aplicam na hipótese <strong>de</strong> <strong>de</strong>litos sujeitos ao rito da Lei Maria da<br />

Penha”.<br />

27-C. Desclassificação: a hipótese introduzida no § 2.º do art. 383 é outra consequência natural e lógica da<br />

nova <strong>de</strong>finição jurídica dada ao fato. Aliás, caberia, realmente, ao magistrado assim agir se, no momento da<br />

sentença, verificasse a sua incompetência, mormente se absoluta, em relação ao processo. A norma inserida no §<br />

2.º torna clara essa medida. Se o juiz, ao sentenciar, por exemplo, verificar que o fato <strong>de</strong>scrito, em verda<strong>de</strong>,<br />

equivale a uma tentativa <strong>de</strong> homicídio e não a uma lesão corporal gravíssima, <strong>de</strong>ve remeter o caso à Vara Privativa

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!