12.06.2017 Views

Código de Processo Penal Comentado (2016) - Guilherme de Souza Nucci

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Nesse sentido: STJ: “O acusado <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>-se dos fatos narrados na <strong>de</strong>núncia, e não <strong>de</strong> sua capitulação. Assim, é<br />

permitido ao Tribunal dar ao fato <strong>de</strong>finição jurídica diversa daquela apontada na <strong>de</strong>núncia, ainda que, em<br />

consequência, tenha que aplicar pena mais grave (CPP, art. 383)” (HC 10.105 – SP, rel. Edson Vidigal, 23.11.1999,<br />

v.u., DJ 13.12.1999, p. 164). E também: STJ: HC 10.837 – SP, 5.ª T., rel. Edson Vidigal, 14.09.1999, v.u., DOU<br />

21.02.2000, p. 146; TRF-4.ª Região: Ap. 2000.04.01.127506-6 – SC, 7.ª T., rel. Vladimir Freitas, 29.10.2002, v.u.<br />

26. Violação da regra da correlação entre acusação e sentença: é causa <strong>de</strong> nulida<strong>de</strong> absoluta, pois<br />

ofen<strong>de</strong> os princípios do contraditório e da ampla <strong>de</strong>fesa, consequentemente, o <strong>de</strong>vido processo legal.<br />

27. Confronto entre a alteração da <strong>de</strong>finição jurídica do fato e os princípios do contraditório e<br />

da ampla <strong>de</strong>fesa: atualmente, não são poucos os processualistas que passaram a sustentar a obrigatorieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> se<br />

dar vista às partes, quando houver a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> modificação da classificação do crime, pois a <strong>de</strong>fesa também<br />

estaria pautando sua tese e sua atuação conforme o tipo penal envolvido na peça inaugural. Por todos, diz Badaró:<br />

“Des<strong>de</strong> que os fatos imputados permaneçam inalterados, po<strong>de</strong> o juiz dar-lhes <strong>de</strong>finição jurídica diversa da constante<br />

da <strong>de</strong>núncia ou da queixa, mesmo sem aditamento <strong>de</strong>ssas peças. Porém, antes <strong>de</strong> sentenciar, em respeito ao<br />

contraditório, <strong>de</strong>ve o juiz convidar as partes a se manifestarem sobre a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma nova classificação<br />

jurídica dos fatos, evitando que sejam surpreendidas com a nova capitulação, sem que tenham tido oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>batê-la. Embora o réu se <strong>de</strong>fenda dos fatos imputados e não da classificação legal dos fatos, o certo é que o tipo<br />

penal exerce influência <strong>de</strong>cisiva na condução da <strong>de</strong>fesa, <strong>de</strong> forma que sua alteração po<strong>de</strong>ria surpreendê-la” (Da<br />

correlação entre acusação e <strong>de</strong>fesa, p. 162-163). Mais enfático, Benedito Roberto Garcia Pozzer acrescenta que<br />

“tal concepção – <strong>de</strong> que o acusado se <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> apenas dos fatos imputados – não é <strong>de</strong> todo correta. Situações<br />

existem em que o erro da classificação do <strong>de</strong>lito, entranhado na <strong>de</strong>núncia ou queixa, po<strong>de</strong> provocar prejuízos à<br />

<strong>de</strong>fesa e, consequentemente, a nulida<strong>de</strong> absoluta da sentença penal. A ampla <strong>de</strong>fesa, para ser exercida em toda<br />

plenitu<strong>de</strong>, implica permitir ao acusado a livre escolha do seu <strong>de</strong>fensor, po<strong>de</strong>ndo eleger aquele que crê mais<br />

especializado, na <strong>de</strong>fesa técnica da infração, pelo qual é acusado, por exemplo. A errônea capitulação, com<br />

possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> con<strong>de</strong>nação final, por conduta diversa daquela <strong>de</strong>scrita na <strong>de</strong>núncia ou queixa, po<strong>de</strong>rá causar<br />

prejuízo ao acusado, que não po<strong>de</strong> selecionar o <strong>de</strong>fensor mais preparado. Mais grave ainda ocorre, quando a<br />

acusação, para <strong>de</strong>terminado tipo penal, possibilita meios <strong>de</strong>fensivos não previstos para aquele consi<strong>de</strong>rado ao final<br />

da sentença. Assim ocorrerá, quando alguém é acusado do cometimento <strong>de</strong> injúria (art. 140, do <strong>Código</strong> <strong>Penal</strong>),<br />

segundo a classificação acusatória; para, <strong>de</strong>pois da instrução, ser con<strong>de</strong>nado pelo crime <strong>de</strong> calúnia ou difamação<br />

(arts. 138 e 139, do <strong>Código</strong> <strong>Penal</strong>), tanto que narrados. Ninguém po<strong>de</strong>rá negar os danos causados pela simples<br />

corrigenda do magistrado na sentença. Ora, se correta fosse a classificação da <strong>de</strong>núncia ou queixa, imputando-se<br />

calúnia ou difamação, o acusado po<strong>de</strong>ria valer-se da exceção da verda<strong>de</strong>, ou da retratação, prevista no <strong>Código</strong><br />

<strong>Penal</strong>, art. 138, § 3.º; art. 139, parágrafo único; e art. 143” (Correlação entre acusação e sentença no processo<br />

penal brasileiro, p. 152-153). Assim não pensamos. A <strong>de</strong>fesa – auto<strong>de</strong>fesa e <strong>de</strong>fesa técnica – volta-se aos fatos<br />

imputados e não à classificação feita. Não vemos praticida<strong>de</strong> na conduta do magistrado que, estando com o<br />

processo em seu gabinete para sentenciar, após verificar que não é o caso <strong>de</strong> con<strong>de</strong>nar o réu por estelionato, mas<br />

sim por furto com frau<strong>de</strong>, por exemplo, paralisa seu processo <strong>de</strong> fundamentação, interrompe a prolação da sentença<br />

e <strong>de</strong>termina a conversão do julgamento em diligência para o fim <strong>de</strong> ouvir as partes sobre a possibilida<strong>de</strong> – não<br />

po<strong>de</strong>rá afirmar que assim fará, pois senão já estará julgando, em <strong>de</strong>cisão nitidamente anômala – <strong>de</strong> aplicar ao fato<br />

<strong>de</strong>finição jurídica diversa da constante nos autos. As partes, certamente, irão renovar suas alegações finais,<br />

produzindo um burocrático e emperrado procedimento, sob o prisma <strong>de</strong> uma Justiça já consi<strong>de</strong>rada extremamente<br />

lenta. De que vale essa “ciência”, se o órgão acusador limita-se a expor o que vislumbra nos autos e pedir a<br />

con<strong>de</strong>nação, em caráter genérico? Para a <strong>de</strong>fesa técnica – a auto<strong>de</strong>fesa dá-se somente no interrogatório e não torna<br />

a ocorrer, nessa hipótese – po<strong>de</strong> representar um prejulgamento in<strong>de</strong>vido, mormente quando a pena pu<strong>de</strong>r ser

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!